Pela quarta noite consecutiva, as bombas voltaram a atingir o leste de Aleppo, segunda maior cidade síria, controlada pelos rebeldes desde 2012. Segundo a ONG Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), o balanço de mortos subiu a 128 desde quinta-feira à noite, quando o exército sírio anunciou uma ofensiva para reconquistar a cidade. A maioria das vítimas eram civis.
Os aviões russos e do regime realizaram "dezenas de ataques" a partir da meia-noite, de acordo com o OSDH. Ao amanhecer, os bombardeios se intensificaram e provocaram incêndios.
Entre os mortos estão 20 crianças e nove mulheres. Além disso, 36 civis morreram nas zonas rurais da província de Aleppo e 400 pessoas ficaram feridas em toda a província.
Leia mais
Grã-Bretanha, França e Estados Unidos criticam Rússia por bombardeios
Vídeo de garoto americano pedindo a Obama que busque menino sírio viraliza
Após 52 anos de guerra, Colômbia e Farc assinam acordo de paz nesta segunda
"Esgotados"
Os quase 250 mil habitantes dos bairros rebeldes de Aleppo não recebem ajuda externa há dois meses. Desde os bombardeios de sábado, a população não tem água, de acordo com o Unicef.
– Os hospitais se encontram sob forte pressão com o número elevado de feridos e a falta de sangue disponível, além da ausência de cirurgiões especializados em transfusões. Por isto, as pessoas gravemente feridas são imediatamente amputadas – afirmou uma fonte médica à AFP.
Segundo o médico Abu Rajab, da ONG Save the Children, metade dos pacientes nos hospitais são crianças.
– Os pacientes são colocados no chão e as equipes médicas trabalham no limite da resistência humana – contou o médico Abu Rajab, da ONG Save the Children.
A AFP constatou que o preço de sete porções de pão árabe passou de 350 libras sírias (70 centavos de dólar) na semana passada, antes da ofensiva, para 500 libras sírias (um dólar).
– Agora comemos apenas uma vez por dia. Meus filhos e eu não conseguimos acabar com nossa fome há duas semanas – conta Hassan Yasin
Tensão entre Rússia e Ocidente
Em Nova York, as potências ocidentais criticaram a Rússia no domingo em uma reunião urgente do Conselho de Segurança da ONU, com acusações diretas a respeito da ofensiva contra Aleppo.
– O que a Rússia apoia e faz não é luta antiterrorista, é barbárie – disse a embaixadora americana Samantha Power.
O Kremlin respondeu nesta segunda-feira e criticou "o tom e a retórica inadmissíveis" dos Estados Unidos e do Reino Unido.
– Consideramos o tom e a retórica dos representantes do Reino Unido e Estados Unidos inadmissíveis e, inclusive, suscetíveis de prejudicar nossas relações – disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.
O embaixador britânico Matthew Rycroft citou a possibilidade de levar a questão ao Tribunal Penal Internacional, competente para os crimes de guera. A última tentativa do Conselho de Segurança esbarrou no veto da Rússia.
No atual contexto, o apelo do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, para "acabar com o pesadelo" na Síria tem poucas possibilidades de ser ouvido esta semana.
O conflito sírio provocou mais de 300 mil mortes desde 2011, segundo o OSDH, e resultou na maior crise humanitária desde a Segunda Guerra Mundial.