Após menos de um mês de relativa calma depois do golpe de Estado frustrado na Turquia, a guerrilha curda do PKK voltou a lançar uma campanha de atentados que, pela primeira vez, alcançaram regiões onde a população não é majoritariamente curda. Uma série de ataques de rebeldes contra as forças de segurança turcas deixou pelo menos 11 mortos e 226 feridos, informaram as autoridades nesta quinta-feira.
– É evidente que o PKK quer se aproveitar do ambiente atual na Turquia. Toda organização terrorista gosta de aproveitar as crises – indicou à AFP uma fonte próxima ao governo, em referência ao golpe.
Leia mais
Turquia promete libertar 38 mil presos sem envolvimento em tentativa de golpe
Trump afirma que democratas "traíram" afro-americanos
Erdogan mostra seu poder em gigantesca manifestação em Istambul
Na noite de quarta-feira, três pessoas, dois civis e um policial, morreram e 73 ficaram feridas. Nesta quinta-feira, ao menos três policiais morreram e 146 pessoas ficaram feridas – 14 em estado grave – em um atentado com carro-bomba contra o quartel-general da polícia de Elazig, reduto nacionalista do leste da Turquia de população não curda, que até agora não havia sido afetada pelo conflito entre o Estado turco e os rebeldes curdos.
O ataque rapidamente atribuído ao PKK pelo ministro da Defesa, Fikri Isik, provocou danos consideráveis no edifício de quatro andares e nos imóveis vizinhos, onde se encontram as casas reservadas às famílias dos policiais, segundo as redes de televisão.
Várias pessoas, que entraram no edifício pouco depois da explosão, ouvida a quilômetros de distância, gritavam "Há alguém aqui?!", enquanto buscavam sobreviventes, segundo as imagens chocantes divulgadas pela CNN-Türk.
A explosão abriu uma cratera de vários metros de diâmetro.
Quatro morrem em ataque rebelde no sudoeste
Ao menos três soldados turcos e um integrante de uma milícia curda pró-Ancara morreram nesta quinta-feira em um ataque contra um comboio militar em Bitlis, no sudeste da Turquia. Outros sete militares ficaram feridos, segundo a agência pró-governamental Anatólia.
A instituição atribuiu o ataque, que ocorreu em uma zona rural do distrito de Hizan, aos "terroristas" – expressão usada pelo Estado turco para designar os rebeldes do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK).
Nunca antes
– Até agora não havíamos tido um ataque assim na cidade, nem recebido informações sobre um eventual ataque – indicou à CNN Türk Omer Serdar, deputado da província pelo partido islamita-conservador no poder AKP (Partido da Justiça e do Desenvolvimento).
Na noite de quarta-feira, três pessoas – dois civis e um policial – morreram e 73 ficaram feridas em Van, localidade a leste da Turquia, em outro atentado com carro-bomba cometido pelo PKK. As informações foram declaradas pelo governador local, Ibrahum Tasyapan. Cerca de uma tonelada de explosivos foram utilizados, de acordo com a agência de notícias Dogan.
Van é uma das grandes cidades de população mista curda e turca, além de ser um destino turístico popular. Localizada perto do Irã, abriga vestígios de civilizações antigas, incluindo a Armênia.
Até agora, havia se esquivado relativamente da violência que desde o início do levante do PKK contra o Estado turco, em 1984, custou a vida de 40 mil pessoas.
Na última segunda-feira, oito pessoas – cinco policiais e três civis – entre eles uma criança de cinco anos, morreram em outro atentado com carro-bomba contra um posto da polícia de Van.
As forças de segurança sofrem ataques quase diariamente por parte do PKK desde o fim do cessar-fogo no verão de 2015. Centenas de policiais e militares morreram.
Segundo a Human Rights Watch, mais de 7 mil combatentes curdos e mais de 300 civis morreram no último ano, enquanto 355 mil pessoas foram obrigadas a fugir devido à retomada do conflito.
No expurgo posterior à tentativa de golpe lançado pelas autoridades turcas contra simpatizantes do pregador Fethullah Gülen, acusado de ser o cérebro do golpe, milhares de policiais ou soldados foram demitidos ou detidos, aumentando os temores de um enfraquecimento dos meios do Estado para combater o PKK.
No entanto, o ministro da Defesa garantiu à agência pró-governamental Anatolia que "desde 15 de julho a República da Turquia é ainda mais forte" e que, mais cedo ou mais tarde, conseguirá erradicar o PKK.