Na comemoração do Dia da Bastilha, o curitibano Ramsés Thiago Paegle, 34 anos, mostrava a orla de Nice para uma prima vinda da Alemanha. Parou em frente a um palco, onde uma banda de rock se apresentava, e fez um snapchat.
Um minuto depois, olhou para trás e viu o caminhão que, em alta velocidade, avançava sobre a multidão, esmagando quem estava em seu caminho. Ramsés escapou por pouco, ao subir na calçada. Uma colega sua de trabalho não teve tanta sorte: está entre os mais de 80 mortos no atentado terrorista que chocou o mundo.
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Morador da cidade francesa há três anos, ele conta que, ao acordar, ainda era possível ver corpos de vítimas pela janela de seu apartamento. Confira, abaixo, o relato completo que o curitibano forneceu a Zero Hora:
"Os fogos de artifício tinham acabado e, como é de hábito por aqui, havia alguns pequenos palcos com músicas variadas. Havia muitas pessoas na rua, e eu estava com minha prima que veio da Alemanha passar uns dias por aqui.
Pouco antes do atentado, andamos um pouco pela rua, que estava fechada somente para pedestres. Eu me lembro de ter parado em frente ao palco de rock, onde fiz um snapchat (veja abaixo).
E eu andei talvez por mais 1 minuto. Quando paramos e olhamos para trás, vimos um grande caminhão em alta velocidade, ziguezagueando na rua, vindo em nossa direção.
Eu vi, então, pessoas sendo esmagadas. O caminhão pulava como se estivesse passando por várias lombadas. Naquele momento, a música estava alta, então não dava para ouvir os gritos. Quando dava, eles se misturavam com o barulho do povo que dançava na rua. Foi horrível. Havia pessoas presas embaixo do veículo, e a alta velocidade do caminhão fazia também com que as pessoas voassem como pinos de boliche.
Graças a Deus tivemos o rápido reflexo de sair da rua e subir na calçada, mas foi tudo muito rápido. O caminhão logo parou na nossa frente. Algumas pessoas gritavam, outras corriam para socorrer. Foi nesse momento que me dei conta de que era um atentado, e então tive medo que o caminhão estivesse com bombas.
Eu não tenho certeza do porquê ele parou. Não sei se ficou preso pelos corpos que estavam no chão, se foi por causa da polícia. Só lembro que ele simplesmente parou. Havia pedaços de pessoas, então tentamos correr na direção contrária, mas os tiros começaram.
Eu ouvi vários tiros, não sabia de onde vinham, pois era noite. Lembro do pânico das pessoas.
Eu pensei que poderia ser outros terroristas atirando, e como não havia outra saída, nós pulamos os 4 metros do calçadão para a praia, na esperança de nos proteger. Foi uma grande correria. Corremos pela praia por cerca de 1km.
Quando subimos de volta ao calçadão, havia muitas pessoas mortas, feridas, gritando.
Eu moro na Promenade des Anglais, bem perto de onde ocorreu tudo. Quando subimos no prédio, da sacada vimos gente morta por todos os lados. Instantes mais tarde eu soube que uma colega de trabalho havia morrido. Seus pais e irmãos se salvaram, mas ela foi atropelada e arrastada pelo caminhão.
Lembro que a polícia e o socorro demoraram um pouco para chegar. Em seguida, vi vários helicópteros e carros de bombeiros. As pessoas se refugiaram em bares, hotéis, onde podiam. Algumas famílias ficaram separadas até hoje pela manhã.
A cidade amanheceu horrível. O dia está lindo, ensolarado, mas as marcas de sangue e alguns corpos ainda estão por aqui."