O líder opositor venezuelano, Henrique Capriles, advertiu neste sábado sobre a possibilidade de implosão social, se o governo impedir que seja realizado um referendo revogatório contra o presidente Nicolás Maduro neste ano, depois que o presidente declarou estado de exceção nacional.
– Se vocês trancam a via democrática, nós não sabemos o que pode ocorrer neste país. A Venezuela é uma bomba que, em qualquer momento, pode explodir. E, portanto, convocamos todo o povo para que se mobilize pelo referendo – disse Capriles no encerramento de uma manifestação ao leste de Caracas.
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Frente ao decreto de estado de exceção e frente à prorrogação da emergência econômica promulgados por Maduro na sexta-feira, Capriles pediu que se mantenham "em alerta", pois "não sabemos o conteúdo desse decreto".
Esse novo decreto é "mais completo, mais integral", declarou Maduro, sem informar o alcance de eventuais restrições que seu governo poderia impor para contrariar "ameaças internacionais". Ele atribui essas ameaças, principalmente, aos Estados Unidos.
Falando de um caminhão rodeado de alto-falantes, o secretário executivo da coalizão opositora Mesa da Unidade Democrática (MUD), Jesús Torrealba, denunciou que, "quando Maduro aprova um estado de exceção sem a aprovação do Parlamento, está cometendo uma violação da Carta Magna".
Já o presidente do Parlamento, Henry Ramos Allup, alertou que o Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) prepara uma sentença para "destituir a diretoria da Assembleia por desacato".
Cerca de mil pessoas participaram do protesto, segundo cálculo da AFP. Vestidos com camisetas e gorros com as três cores da bandeira venezuelana, os manifestantes dançavam ao ritmo de salsa, reggaeton e tambores, enquanto levavam cartazes com as palavras de ordem "Revogatório Já", "#OPovoUnidoVenceoCNE" e "Maduro #RenunciaJa".
A liderança opositora convocou um novo ato a ser realizado nas sedes do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) em todo o país para a próxima quarta-feira.
– Isso do estado de exceção é pura história, outra mentira de Maduro para nos colocar medo – afirmou a enfermeira Aura Rojas, de 52 anos, que disse estar convencida de que "o governo não tem intenção de combater a escassez, nem a inflação, porque quer ter o povo com fome".
A aposentada Miriam Garcia, de 67, disse se sentir "decepcionada" com o decreto.
– Estamos cansados de o governo sempre inventar algo para se dar bem. Temos de lutar para Maduro sair este ano, mas, se não conseguirmos, teremos de votar em 2017 – declarou.
María Alexandra Machado, uma consultora financeira de 49 anos, considera esse cenário inadmissível.
– Se não convocarem o referendo este ano, o povo sairá às ruas e haverá guerra – prometeu.
A oposição espera realizar a consulta no mais tardar no final deste ano, mas o governo defende que os prazos legais não vão permitir que essa data seja atendida.
Se o referendo for realizado depois de 10 de janeiro de 2017 – quando completam quatro anos do período presidencial – e Maduro perder, os dois anos restantes serão concluídos pelo vice-presidente, designado pelo chefe de Estado.