Uma epidemia mortal e sem precedentes assombra a África.
O surto da febre ebola que atinge a Guiné já tem 22 casos confirmados e 78 mortes suspeitas registradas em todo o país, entre 122 possíveis episódios.
Os dados foram divulgados ontem pela organização Médicos Sem Fronteiras (MSF), que tenta frear a expansão da moléstia. A ebola, uma febre hemorrágica viral de fácil propagação e grande letalidade, causou dezenas de mortes na África nos últimos anos e é considerada uma ameaça para a saúde global. Tem potencial para ser utilizada como agente de guerra biológica - o que acende ainda mais o sinal de alerta das autoridades sanitárias internacionais. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o vírus está entre os mais contagiosos e mortais entre os humanos.
"Somos confrontados com uma epidemia de amplitude jamais vista segundo a divisão do número de casos no território, com várias cidades envolvidas no sul do país" (epicentro da epidemia), e na capital Conakry, declarou Mariano Lugli, coordenador da MSF na Guiné, em comunicado.
Cepa "Zaire" é a mais letal das cinco existentes
Uma das preocupações do MSF é a "disseminação" em "locais remotos" que tem sido registrada. O Ministério da Saúde da Guiné analisou várias amostras. Por enquanto, 22 deram resultado positivo para o vírus Ebola. A metade desses casos foi registrada em Conakry, e a outra metade em duas cidades do sul: Guéckédu (seis casos) e Macenta (cinco casos).
A propagação, porém, não se limita à Guiné. Vários casos suspeitos foram assinalados na Libéria e em Serra Leoa, países vizinhos da Guiné. Na Libéria, dois casos foram confirmados.
O Ebola é transmitido por contato direto com sangue, fluidos corporais ou tecidos de pessoas infectadas, seja de homens ou animais, vivos ou mortos. Segundo o governo da Guiné, o vírus identificado no país é "do tipo Zaire", uma das cinco espécies da família dos filoviruses que causam Ebola.
- A cepa Zaire do vírus Ebola é a mais agressiva e mortal. Ela mata mais de nove em cada 10 casos. Para parar o surto, é importante traçar a cadeia de transmissão - disse Michel Van Herp, membro da MSF, salientando que todos os possíveis contaminados devem ser "monitorados e isolados ao primeiro sinal de infecção".
O vírus foi descoberto em 1976. Desde então, diferentes estirpes causaram epidemias com 50% a 90% de mortalidade na República Democrática do Congo, Gabão, Sudão e Uganda. Em 1979, 80% das vítimas de uma epidemia morreram. Em maio de 1995, a cidade de Mesengo, no antigo Zaire, foi atingida pelo vírus, que matou mais de cem pessoas.
O que é
- A ebola, uma febre hemorrágica, ganhou esse nome de um rio no norte da República Democrática do Congo (RDC), onde foi detectado pela primeira vez em 1976, quando o país ainda se chamava Zaire.
- Desde então, a doença matou pelo menos 1,2 mil pessoas de 1.850 casos registrados.
- Não existe qualquer tratamento ou vacina específica para a febre ebola.
- O vírus, da família Filoviridae, tem cinco espécies (Zaire, Sudão, Costa do Marfim, Bundibudjo e Reston) e é transmitido por contato direto com o sangue, os fluidos ou os tecidos dos indivíduos infectados.
- A doença é particularmente devastadora porque os médicos geralmente estão entre as primeiras vítimas, o que ameaça o serviço de saúde em países com graves carências.