Uma casa para receber peregrinos
Na elegante e murada região de Houghton, subúrbio de Joanesburgo, a segurança ostensiva do ilustre morador e o vaivém de peregrinos em silêncio alteram a rotina tranquila. Há flores, velas, fotos, cartazes, quadros. Um grupo de jovens havia passado o dia no estádio Soccer City e, depois, seguiu para a frente da casa de "tata Madiba", como ele é carinhosamente chamado. Mbali Sibisi, 29 anos, resumiu:
- Amamos Mandela.
Após a cerimônia no Soccer City, a família reuniu uma dúzia de amigos na casa onde o ex-presidente viveu os últimos anos ao lado da mulher, Graça Machel. Já anoitecia quando, sem alarde, um convidado ilustre chegou. O ex-presidente Bill Clinton, ocupante da Casa Branca que mais cultivou proximidade com Mandela, chegou acompanhado da mulher, Hillary, e da filha, Chelsea. Segundo relatos de fontes de um familiar, Clinton teve uma conversa reservada com Graça.
Notícias de Cristina
A presidente argentina Cristina Kirchner, que há poucas semanas retomou o trabalho após uma cirurgia no crânio, enviou o vice, Amado Boudou, para representar o país no funeral de Nelson Mandela. Ele viajou no mesmo voo em que vim, só que com a primeira classe reservada para a comitiva.
Mais tarde, na saída VIP do estádio, após a cerimônia, Boudou fala rapidamente com Zero Hora.
- Como está a presidente?
- Tudo bem, já está disposta, já vai a voltar a voar. Está muito bem a Argentina.
Recado de Raúl
Na saída da ala VIP do Soccer City, o presidente cubano, Raúl Castro, irmão de Fidel Castro, que fez um discurso inflamado para Mandela, caminhava com um sorriso no rosto. Passou ao meu lado, e me encorajei a fazer a abordagem. Pedi uma entrevista ou, pelo menos, umas palavras.
- Sobre o Mandela, já disse muitas palavras na cerimônia - disse, esquivando-se.
Insisti, e ele topou mandar um recado. Sorriu, afastou os seguranças, segurou a repórter pelo braço, mas limitou-se a dizer:
- Através de Zero Hora, envio uma saudação a todos os brasileiros e a todas as brasileiras também.
De guerrilheiros a funcionários públicos
Integrantes do grupo Umkhonto we Sizwe, que já foi o braço armado do Congresso Nacional Africano, dançaram e entoaram gritos de guerra nos corredores do Soccer City, enquanto o cerimonial se arrastava. Hoje, boa parte dos que estão fardados como os antigos guerrilheiros- um dos mais animados vestia uma boina de Che Guevara - é formada por funcionários públicos.
Presença nos ares
Volto à África do Sul 19 anos depois de ter morado aqui, de 1994 a 1995, quase duas décadas depois da eleição de Nelson Mandela, em 1994. As mudanças começam no voo da South African Airlines. Quase toda a tripulação é negra.
- Era assim em 1994? - pergunto a uma aeromoça, que fala zulu.
- Há 20 anos, uma minoria era negra, talvez 15%. Agora, é a imensa maioria - ela responde.
Febre amarela
Atletas de vôlei de praia do Brasil vieram à África do Sul para disputar o mundial em Durban e ficaram um bom tempo retidos porque o setor de imigração viu problemas na vacinação contra a febre amarela. No Brasil, a Anvisa aceita que a revacinação seja feita no mesmo dia da viagem. Aqui, é uma loteria.
Herança da Copa
Uma das maiores satisfações ao chegar é poder tomar um trem semelhante aos europeus, bastante rápido, para vários pontos da cidade. O que antes eram cidades, agora parecem bairros. O trem conecta, inclusive, Joanesburgo, a São Paulo da África do Sul, com Pretória, uma Brasília, para manter a comparação. E quem usa, em sua maioria, esses trens? Negros. Antes, aos negros restavam apenas vans superlotadas.
Para a eternidade
Mandela está por todas partes. A começar por livros de condolências, em diferentes pontos da cidade. Este homem recepciona os visitantes logo no desembarque do aeroporto de Joanesburgo.