Angela Merkel não é a única vítima de pente-fino em seu passado político. Na Europa do Leste, revelações sobre os esqueletos no armário de grandes nomes também causaram reflexão:
Milan Kundera, escritor crítico do comunismo e espião
Ele é um dos autores mais lidos e um dos mais famosos dissidentes do mundo, cujos livros lançaram luz sobre os dias mais escuros do comunismo europeu. Mas, em 2008, Milan Kundera se viu envolvido em um escândalo de espionagem após ser acusado de denunciar um agente da inteligência ocidental às autoridades comunistas na década de 1950, quase acarretando sua pena de morte.
O escritor checo teria reportado à polícia seu compatriota Miroslav Dvoracec, de acordo com o acadêmico Adam Hradilek. A revista checa Respekt publicou um relatório de março de 1950, que afirmava: "Hoje, às 1600 horas, um estudante, Milan Kundera, nascido em 1/4/1929 em Brno, apresentou-se neste departamento e afirmou que Iva Militka encontrou Miroslav Dvoracek, que aparentemente desertou do serviço militar".
O boletim dizia que Dvoracek, que teria escapado do país em 1948 e era considerado um traidor do regime comunista, fora pegar uma mala no apartamento de Militka naquela tarde. Quando retornou ao local, foi detido pela polícia. Ele enfrentou a pena de morte, mas foi sentenciado a 22 anos de cadeia - dos quais cumpriu 14, a maioria em um campo de trabalhos forçados.
Militka disse a Hradilek que informara seu namorado e futuro marido Miroslav Dlask dos movimentos de Dvoracek, e que ele teria passado a informação a seu amigo Kundera, então um universitário de 21 anos.
Foi difícil fazer o escritor quebrar seu silêncio - Kundera dá pouquíssimas entrevistas -, mas, após insistência, o checo, conhecido por seu ódio ao comunismo linha-dura, negou as acusações veementemente, chamando as alegações de "o assassinato de um autor".
À agência de notícias CTK, ele disse:
- Estou totalmente intrigado por algo que não esperava, algo sobre o que não sabia nada até ontem, e que não aconteceu. Não conhecia o homem, mesmo.
Ryszard Kapuscinski, correspondente internacional e agente do serviço secreto
O semanário polonês Newsweek Polska revelou que o renomado escritor e jornalista Ryszard Kapuscinski, morto em 2007, escreveu relatórios para a polícia secreta comunista nos anos 1960 e 1970. Entretanto, de acordo com arquivos do Instituto Polonês de Memória Nacional, as atividades para o serviço secreto exercidas por Kapuscinski enquanto trabalhava como correspondente internacional nunca colocaram ninguém em perigo. No entanto, em nota, o instituto condenou a ação: "A colaboração de um jornalista com os serviços secretos - principalmente com aqueles de um Estado não democrático - nunca podem ser considerados uma virtude. Na República Popular da Polônia, tal colaboração, quanto não realizada por razões ideológicas, era o resultado de chantagem, fraqueza, ambição, conformismo e fatalismo político histórico. Estamos quase certos que esse foi o caso de Kapuscinski... é uma vergonha que, nos 10 anos em que viveu em uma Polônia livre, ele nunca tenha tomado a decisão de falar sobre o fato e explicar abertamente seus motivos.