No ano passado, a paulista Sara Winter, então com 19 anos, passou 25 dias em Kiev habilitando-se para inaugurar um braço verde-amarelo do Femen - um coletivo de ativistas que nasceu na Ucrânia em 2008 e ganhou ramificações em diversos países. De volta ao país, foi detida cerca de sete vezes, diz ela. Nas redes sociais do Femen ucraniano há inclusive uma foto de Sara sendo levada em um camburão policial com elogios à persistência da brasileira. Agora, uma das fundadoras do Femen, a ucraniana Alexandra Shevchenko, 25 anos, declarou que braço brasileiro comandado por Sara deixou de ser reconhecido como parte da organização.
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- Gostaria de dizer algo que imagino seja novo para vocês. Não temos mais Femen Brazil. A pessoa que nos representava, Sara Winter, e que tem sua própria conta no Facebook, o Femen Brazil, não faz parte do nosso grupo. Tivemos muitos problemas com ela. Ela não está pronta para ser líder. É uma pena, mas essa decisão faz parte do nosso crescimento como movimento honesto. O Femen Brazil não nos representa - afirmou Alexandra, em entrevista a Zero Hora por Skype, sem entrar em detalhes sobre os motivos da decisão.
Alexandra se mudou para Alemanha e, neste momento, está em Kiev, a capital ucraniana.
- Vamos reconstruir o Femen no Brasil - garante Alexandra.
Nos últimos 12 meses, Sara ganhou ares de celebridade, participando de programas de auditório e teve sua história contada pelos principais veículos de comunicação do país. Além de apoiadores, a atuação do Femen Brazil (Brasil com z) despertou polêmicas e críticas manifestadas especialmente em blogs feministas e nas redes sociais pela exposição do corpo e por importar um modelo exótico carente de referenciais teóricos e descontextualizado da realidade brasileira. No ano passado, uma das principais ativistas do grupo concedeu entrevistas dizendo ter se afastado do movimento disparando acusações a Sara. Criticava o grupo brasileiro por falta de rumo.
Sara teve também de rebater afirmações de que simpatizava com o nazismo. Disse que simpatizou com skinheads no passado, mas que se desvencilhou deles quando passou a estudar história. Ela também não desanimou com a metralhadora comentários desabonadores que gerou no Facebook quando postou um elogio à ex-primeira-ministra britânica Margaret Thatcher.
Sara afirma que "várias coisas deram errado" entre o Femen na Ucrânia e o grupo que organizou no Brasil. Conta que havia sido combinado que ela receberia uma ajuda de custo para se dedicar integralmente ao Femen, no valor de US$ 300. Ela diz ter recebido esse valor duas vezes, em setembro e em dezembro, e que se recusou a realizar algumas manifestações pedidas pela matriz. Diz que passou o resto do tempo trabalhando na organização, sem receber.
- Elas queriam que eu contratasse um helicóptero para desenhar um símbolo do Femen no Cristo Redentor. Como iria fazer uma coisa dessas? Queriam que eu encontrasse uma cruz de madeira no Rio ou em São Paulo e serrasse, como elas fizeram em Kiev. Elas tinham muitas ideias absurdas que foram nos distanciando - diz Sara, que se diz disposta a seguir adiante com os protestos de topless mesmo sem o reconhecimento das ucranianas.