O cardeal catarinense dom João Braz de Aviz foi um dos cinco brasileiros a participar do conclave que elegeu o papa Francisco. Em entrevista por telefone, ele afirmou que, na votação, o nome de Jorge Bergoglio " foi algo que, devagarinho, foi crescendo" e dividiu expectativas para o pontificado.
Zero Hora - Os primeiros atos do Papa Francisco confirmam o que se esperava pelos cardeais?
Cardeal João Braz de Aviz - Vimos a necessidade de um papa que pudesse estabelecer uma relação mais pastoral com a Igreja. Um pastor mais perto do seu povo e de seus problemas. Tenho a impressão de que o Papa começa, mais por gestos do que por palavras, a demonstrar isso.
ZH - Pode haver alguma mudança na posição da Igreja em questões como celibato, contracepção e casamento gay?
Dom Aviz - Na questão da bioética, a Igreja desenvolveu uma doutrina muito coerente com o Evangelho e muito ligada à defesa da vida. Em relação às questões ligadas ao casamento gay, à pedofilia, aos preservativos, ao celibato dos sacerdotes, sobre tudo isso existe uma consciência muito clara. Não creio que o Papa vá mudar o que foi estabelecido.
ZH - Como a questão da pedofilia será tratada a partir de agora?
Dom Aviz - O papa Bento XVI teve a coragem de apontar claramente os problemas que existiam (na Igreja), como o fez em relação a pedofilia. A Igreja começou um caminho de purificação muito interessante e muito necessário. Penso a sociedade poderá seguir em muitas coisas que o exemplo que a Igreja está dando com este reconhecimento.
ZH - Foi veiculado que o senhor e dom Odilo Scherer tiveram uma discussão por causa da gerência do banco do Vaticano. É verdade?
Dom Aviz - Eu não tenho consciência. Sou amigo de dom Odilo desde o seminário. Estamos em momento em que não devemos excluir pessoas com posições diferentes, mas perceber quais são as razões, os valores que estão defendendo. Nenhum dos nomes que apareceram foi motivos de conflito. Foram motivo de aprofundamento. A eleição do Papa não foi uma coisa explosiva, foi algo que, devagarinho, foi crescendo.
ZH - O fato de Francisco ser jesuíta ajudou ou atrapalhou na escolha? Foi uma quebra de paradigma escolher ou apenas mais uma consequência?
Dom Aviz - Mais uma consequência. O que conta é a pessoa de Bergoglio. Ele é um homem de uma coerência muito grande, de uma vida muito simples, muito cheia de fé, próximo do povo. Ele é muito ligado a Francisco, outra escola de espiritualidade. O homem livre que segue Cristo e que dá um testemunho de amor a igreja.