Em sua casa na capital cubana, o jornalista Reinaldo Escobar, formado em 1971 pela Universidade de Havana, não deixa o telefone tocar mais de duas vezes. Atende e transparece na voz aflita a ansiedade por ter notícias da mulher, a blogueira Yoani Sánchez. Desde que chegou ao Brasil, Yoani telefonou-lhe três vezes. Nos diálogos, ela se diz feliz por presenciar a pluralidade de opiniões, mas se queixa dos militantes que a vaiaram na Bahia. Preocupado com ela? Não, diz ele, Yoani estaria mais insegura se estivesse em Cuba. Leia a entrevista:
Zero Hora - Vocês têm conversado desde que Yoani chegou ao Brasil?
Reinaldo Escobar - Sim, estamos em comunicação, nosso filho também está em comunicação com ela. Ela está muito feliz, muito ativa durante a viagem. Era um momento esperado. Ficou contente em conhecer pessoalmente gente que conhecia apenas virtualmente ou por telefone. Então, o que ela está sentindo é que valeu a pena tudo o que passou. E é bom começar pelo Brasil essas viagens que vai fazer. São as cores diferentes que aparecem a sua frente, a vida em uma democracia. Isso é importante para quem não tem.
ZH - O que ela diz da visita e da recepção que teve, com pessoas que a vaiaram e xingaram?
Escobar - Em primeiro lugar, fala muito da sensação de estar em um país onde as pessoas opinam e são respeitadas pelo que dizem, sendo contra ou a favor, tanto faz. Essa é a principal sensação que ela teve e é o que mais comentou comigo. Ela está em um país democrático e entendeu com naturalidade as expressões que recebeu, tanto de parte das pessoas que a receberam bem quanto das pessoas que não a receberam bem. Yoani é uma pessoa que tem pensamento livre, tem abertura para ouvir a todos. Entende e valoriza aos diferenças de opinião.
ZH - No seu blog Generación Y, ela criticou ontem o grupo que a vaiou, dizendo que são o longo braço do governo cubano. Ela se surpreendeu com essa situação?
Escobar - Nós já sabíamos que o embaixador de Cuba no Brasil foi a pessoa que organizou essas coisas e inclusive preparou um dossiê de mais de 200 páginas, com insultos e calúnias sobre Yoani. Isso é sabido, saiu inclusive nos jornais do Brasil. Por isso, claro que ela não gostou de ouvir ofensas, mas não nos surpreendemos (Secretaria-Geral da Presidência reconheceu que um servidor recebeu, na embaixada de Cuba no Brasil, um CD com informações sobre Yoani)
ZH - O senhor está preocupado com a segurança de Yoani em sua visita ao Brasil, com todos esses inconvenientes que ela passou especialmente na segunda-feira?
Escobar - Não, realmente, Yoani teria mais a temer aqui em Cuba, onde já esteve presa pelo simples motivo de pensar diferente, do que em qualquer lugar do mundo, correria mais perigo se estivesse em Cuba do que em qualquer lugar do mundo. O Brasil é um país onde as pessoas estão acostumadas a lidar com opiniões divergentes.
ZH - E o senhor, o que pensa dessas pessoas que xingaram Yoani?
Escobar - Do que estou certo e quero deixar claro aqui nesta nossa conversa é que sei que isso não faz parte do povo brasileiro, de forma natural. Nós sabemos diferenciar as coisas, quando não são espontâneas. Não tenho muito o que falar sobre essas pessoas. São pessoas que têm um conhecimento induzido sobre o assunto.