Ottawa, Ontário - O estudo foi divulgado no início de janeiro por pesquisadores canadenses. Segundo eles, a contaminação atingiu uma área maior do que anteriormente se acreditava.
Para o estudo, financiado pelo governo, os pesquisadores começaram a desenvolver um registro histórico da contaminação, analisando sedimentos de cerca de 50 anos de idade, provenientes de seis lagos pequenos e rasos ao norte de Fort McMurray, Alberta, centro da indústria de areias betuminosas. Foram realizados testes para averiguar se havia depósitos de hidrocarbonetos policíclicos aromáticos, ou HAPs, nas camadas de sedimento. Tais grupos de substâncias químicas são associados a um tipo de petróleo que, em muitos casos, descobriu-se causar câncer em seres humanos após uma exposição em longo prazo.
- Um dos maiores desafios foi o fato de que não tínhamos dados acumulados em longo prazo - disse John P. Smol, principal autor do estudo e professor de biologia da Queen's University, em Kingston, Ontário - Por isso, alguns membros da indústria têm alegado que a poluição nas areias betuminosas é natural, ou seja, que ela sempre esteve lá.
Os pesquisadores descobriram que, pelo contrário, os níveis desses depósitos têm aumentado de modo constante desde que a produção de areias betuminosas grande escala foi iniciada, em 1978.
Amostras recolhidas em um local de testes, segundo o artigo, apresentam hoje de 2,5 a 23 vezes mais HAPs em sedimentos atuais do que nas camadas que datam por volta de 1960.
- Não estamos dizendo que esses lagos são venenosos - disse Smol - Mas essa situação vai piorar. Ainda não é tarde demais, mas as perspectivas não são muito promissoras.
De acordo com Smol, os lagos estudados pelo grupo em meio natural estão hoje tão contaminados quanto os lagos de centros urbanos.
O estudo deve motivar a indignação de críticos do setor, que já argumentam que o petróleo extraído de areias betuminosas do Canadá apresenta riscos ambientais, como lagos de lamas tóxicas, emissões de gases de efeito estufa e destruição de florestas boreais.
Também há disputas em andamento quanto à proposta de construção do oleoduto Keystone XL, que transportaria petróleo sob o Oeste dos Estados Unidos até as refinarias da costa do golfo, ou um gasoduto alternativo que transportaria o petróleo do litoral de Alberta até a Colúmbia Britânica para exportação para a Ásia.
Os pesquisadores, entre os quais há cientistas da divisão de pesquisa de contaminantes aquáticos do ministério do meio ambiente do Canadá, optaram por verificar a presença de HAPs porque a substância tinha sido objeto de estudos anteriores, incluindo um, publicado em 2009, que analisou a distribuição de substâncias químicas na região gelada de Fort McMurray. Essas pesquisas suscitaram críticas do governo de Alberta e outros por não terem fornecido um cenário de referência histórico.
- Agora encontramos provas inequívocas - disse Smol.
Ele disse não estar surpreso com o aumento nos depósitos de HAP após o desenvolvimento industrial das areias betuminosas revelado pela análise. Ao comentar a pesquisa em uma entrevista por e-mail, Adam Sweet, porta-voz de Peter Kent, ministro do meio-ambiente do Canadá, enfatizou que, com a exceção de um lago muito próximo das areias betuminosas, os níveis de contaminantes medidos pelos pesquisadores não ultrapassam as diretrizes canadenses e eram baixos em comparação aos verificados em áreas urbanas.
Ele acrescentou que foi posto em prática um programa de monitoramento ambiental na região, anunciado em fevereiro, a fim de abordar as preocupações indicadas por esses estudos e proporcionar uma melhor compreensão dos efeitos cumulativos do desenvolvimento das areias betuminosas em longo prazo.
Pesquisas anteriores já haviam sugerido várias maneiras diferentes pelas quais as substâncias químicas podem se espalhar. A maior parte da produção de areias betuminosas envolve a mineração em grande escala a céu aberto. As substâncias químicas podem ser levadas pelo vento quando são desenterradas por escavadeiras gigantes e, em seguida, depositadas em caminhões de lixo.
Acredita-se que "upgraders" operados em projetos de areias betuminosas que separam o betume de petróleo da areia emitem HAPs. E alguns cientistas acreditam que os grandes lagos de águas residuais provenientes desse e outros processos de tratamento das areias betuminosas podem estar causando o vazamento de HAPs e outras substâncias químicas em massas de água a jusante dos empreendimentos.
The New York Times
Pesquisadores revelam ligação entre indústria de areia e casos de câncer no Canadá
O desenvolvimento das areias betuminosas de Alberta aumentou os níveis de compostos cancerígenos nos lagos do entorno para muito além dos níveis naturais
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