A frieza técnica dos gabinetes judiciais e legislativos misturada ao calor da emoção envolvendo a saúde frágil de um político popular que vive seu drama pessoal amorna a situação na Venezuela.
Cresce a tendência de a quinta-feira, o dia 10 da posse, configurar-se mero protocolo, a data em que o presidente reeleito, Hugo Chávez, deveria fazer o juramento - e que poderia ser adiada devido a sua convalescença em Cuba.
- É delicado para a oposição, até em termos de imagem. Há questões humanitárias e institucionais - pondera para ZH o consultor em comunicação estratégica venezuelano Miguel Sogbi.
E não é apenas a investidura profissional que faz de Sogbi uma autoridade sobre o assunto. Nas eleições de outubro, ele foi o consultor de Henrique Capriles, o candidato derrotado por Chávez e o político que se projeta como principal nome da oposição.
- A tese governista é de que o presidente foi reeleito, a posse é formal. A oposição diz que termina um governo e começa outro. A situação é estranha, mas favorável ao governo, que domina o Tribunal Supremo - diz Sogbi.
O problema da oposição é que sustentar a estratégia de desbancar um doente pode provocar efeito negativo de imagem. Soaria oportunismo.
A delicadeza se mostra até na convocação para protestos pela posse interina do presidente do Legislativo. Isso significa defender que o chavista Diosdado Cabello seja o presidente interino. Julio Borges, coordenador do Primero Justicia, chamou para protestos - mas sem estabelecer data e local.
- O povo deve se preparar para um protesto - disse Borges à Globovisión.
Após ser reeleito no sábado como presidente do Legislativo, Cabello deixou clara sua estratégia: Chávez não estará na posse, mas isso não será empecilho para que continue presidente, sob o beneplácito do Judiciário e do Legislativo chavistas e dos países vizinhos. O juramento, segundo ele, é passível de adiamentos, sem traumas.
Oposicionistas criticam, mas contornam o embate direto
Advogados oposicionistas tentam contornar o enfrentamento direto com o presidente fragilizado pela quarta cirurgia oncológica em um ano e meio.
Gerardo Blyde, que foi constituinte e é prefeito de Baruta, discorda da prorrogação do mandato e a define como inconstitucional. Mas investe contra o vice-presidente Nicolás Maduro, dizendo que "os cargos expiram em 10 de janeiro" - como o de vice é indicado pelo presidente, Maduro não teria legitimidade a partir de quinta-feira.
Confronto delicado
Oposição venezuelana vive impasse estratégico
Ouvido por ZH, estrategista de Henrique Capriles admite que situação é "favorável ao governo"
Léo Gerchmann
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