Chesapeake, Virgínia - O "tumulto" começou de repente na fronteira entre a Virgínia e Carolina do Norte em um bolsão de pântanos e pinheiros. "Voltem para a América!", os manifestantes gritavam, lançando "pedras" de borracha na grande estrutura de compensado que representava o Consulado dos Estados Unidos. "Não queremos vocês aqui! Este é o nosso país!"
Duas dúzias de fuzileiros vestindo trajes para controle de tumultos marchavam em formação, batiam seus cassetetes nos escudos e pareciam ameaçadores. Dentro de minutos, eles tinham afastado os manifestantes - também fuzileiros, usando jeans e camisetas - em uma demonstração de habilidades letais de controle de multidão.
- Pode ser um dia longo, se você é um agitador - disse o sargento William M. Loushin, o instrutor que organizou o motim. - Uma vez que comece a agredir um fuzileiro, isso nunca termina bem.
Na sequência do ataque ao complexo diplomático dos Estados Unidos em Benghazi, Líbia, o Pentágono enviou duas equipes fuzileiros de elite, especialmente treinados, para proteger as embaixadas dos Estados Unidos na Líbia e no Iêmen, e teria mobilizado um terceiro grupo para o Sudão o governo de Cartum não tivesse dito não. Para demonstrar o que essas unidades - chamadas de fuzileiros FAST (sigla em inglês de Equipe Rápida de Segurança Antiterrorismo) - são treinadas para fazer, os fuzileiros montaram uma apresentação. Em um centro de treinamento à beira do pântano Great Dismal, um grupo de jornalistas assistiu aos fuzileiros afastando desordeiros artificiais, derrubando portas e tomando uma suposta embaixada dos Estados Unidos ocupada por militantes.
A morte de quatro americanos, inclusive a do embaixador J. Christopher Stevens, no ataque em Benghazi, chamou atenção à adequação da segurança de embaixadas em zonas de perigo como a Líbia. A Secretária de Estado Hillary Clinton anunciou uma revisão da segurança diplomática dirigida por Thomas R. Pickering, diplomata veterano e ex-subsecretário de estado, e existem solicitações do Congresso pedindo uma investigação independente.
Não havia nenhum fuzileiro ou outros militares americanos no complexo levemente protegido em Benghazi, e os fuzileiros não quiseram responder perguntas sobre o que teria acontecido se houvesse.
As unidades FAST são forças de reação rápida capazes de se moverem agilmente para garantir e proteger uma embaixada em uma crise. Elas não têm a função de se envolver em combate ofensivo por terra, afirmaram oficiais da corporação.
Tampouco devem ser confundidos com fuzileiros que atuam como guardas de segurança, que usam uniformes de gala e ficam permanentemente a postos em mais de 150 locais diplomáticos no mundo inteiro, todos sob jurisdição do Departamento de Estado.
Esses fuzileiros, que muitas vezes são menos de uma dúzia em uma embaixada ou consulado, são responsáveis pela segurança tanto de material classificado quanto de funcionários dos Estados Unidos. Eles só carregam armas de pequeno porte, mas têm acesso a artilharia pesada e já chegaram a entrar em combate.
Em 2004, fuzileiros atuando como guardas de segurança e seguranças da Arábia Saudita tiveram um combate que durou três horas com cinco agressores ao consulado americano na Arábia Saudita, resultando na morte de cinco funcionários da embaixada e quatro agressores.
As equipes do FAST fazem rodízios de seis meses em três bases militares americanas, na Europa, Oriente Médio e Ásia, de forma que possam estar estrategicamente localizadas em todos os potenciais pontos de tensão. A equipe em Trípoli, na Líbia, voou de sua base em Rota, Espanha, ao passo que a equipe despachada para o Iêmen veio de uma base em Bahrain. A terceira base fica em Yokosuka, Japão.
Nessa manhã, nas florestas isoladas da Virgínia, os fuzileiros praticaram derrubar a tiros "portas" feitas de folhas de compensado penduradas em estruturas soltas de metal. A maneira certa era mirar a um ângulo de 45 graus na fechadura à direita da maçaneta, e então disparar.
Quando uma maçaneta foi destruída, um instrutor trouxe um pedaço de madeira com uma fila de três maçanetas, que foram então anexadas à porta de compensado (as maçanetas foram alinhadas de forma que os fuzileiros pudessem praticar com maçanetas em uma das três posições comuns usadas em portas pelo mundo). Os instrutores dizem que os fuzileiros destroem várias centenas de maçanetas por dia.
O evento final foi a retomada de uma embaixada americana ocupada por militantes. Sob os comandos dos instrutores, os fuzileiros entraram no prédio, encontraram militantes de papelão portando armas e fingiram atirar neles. Normalmente, usariam munição de verdade no exercício, mas não nessa manhã.
- É muito perigoso - disse um dos instrutores, o sargento de artilharia, Todd M. Leahey. - Este grupo de fuzileiros em particular está na segunda semana de treinamento, então ainda cometem muitos erros.
Alguém já se feriu? "Com certeza", Leahey respondeu. - Ainda não tivemos mortes, mas tivemos ferimentos.
Bem abaixo os fuzileiros estavam gritando e praticando "baque no olho" após atirar em um militante de papelão.
Leahey, 35 anos, veterano de guerras no Iraque e no Afeganistão, explicou: - Se eu apertar o seu olho e você estiver vivo, haverá uma reação sua. Se estiver morto, não haverá reação. No Iraque tivemos um monte de pessoas se fingindo de mortas. Assim, afirmou, os fuzileiros "colocam a ponta da arma no peito do combatente inimigo, pressionam para baixo e depois batem no olho, se houver uma reação, não estão mortos. Depois os capturamos como combatentes e os detemos.
Com isso, a manhã acabou e o consulado estava seguro.