Arquiteto urbanista em Nova York, Frederic Schwartz foi um dos encarregados pelo planejamento e reconstrução de um terço de New Orleans depois da passagem do furacão Katrina, sete anos atrás. Foi pinçado pela comissão local de planejamento pelas propostas que fez para a região do marco zero, em Manhattan, após a queda das torres gêmeas. Schwartz acumula em seu currículo o memorial ao 11 de Setembro em New Jersey, o plano diretor do porto de Cingapura, planejamento da Expo Shangai. Também trabalha de forma voluntária na recuperação do Haiti. Para o arquiteto, que ainda mantém um escritório em New Orleans, a cidade está se recuperando, mas ainda é preciso provar que oferece segurança para que "floresça" de verdade. Confira trechos da entrevista concedida por telefone a ZH nesta terça-feira, quando um novo furacão, o Isaac, está a caminho da cidade:
ZH - Como foi a reconstrução?
Frederic Schwartz - Depois de meses, ainda havia o caos, e o governo não dava respostas. Então, no lugar de o governo orientar o processo, a sociedade tomou as rédeas. Foram bilhões de dólares, entre dinheiro privado (ele foi pago pela Rockefeller Foundation) e governamental. Com o reforço da proteção, houve uma mudança psicológica. Há consciência de que as falhas do Katrina não podem mais acontecer.
ZH - Vocês não temem ter de reconstruir tudo de novo?
Schwartz - As pessoas sabem que um furacão de categoria 1 ou 2 não é um Katrina. Eu disse às minhas sobrinhas que moram lá que não deixassem a cidade. É mais perigoso estar na rodovia do que em casa. Acredito que, se o sistema for testado e bem-sucedido, New Orleans vai florescer de novo. Se não, irá desaparecer. Mas este teste não será desta vez. O Isaac não dará uma indicação real de se o sistema realmente é bom.
ZH - A cidade voltou ao que era?
Schwartz - Está crescendo, mas é um processo lento. As pessoas estão voltando lentamente para suas casas, mas mudou o espírito. Isso porque foi a população mais pobre, negra, que migrou. Agora, New Orleans está adquirindo feições mais brancas. Não é mais o mesmo lugar. Não tem mais a mesma alma. Está um pouco artificial. Há uma grande questão sociológica lá.
ZH - Fisicamente, a cidade ainda não se recuperou?
Schwartz - Não tenho dados precisos, mas arriscaria dizer que uns 25% da cidade desapareceu. No centro histórico, você não sente mudança, mas ainda há bairros em ruínas.
ZH - Vocês fizeram alguma proposta inovadora na arquitetura?
Schwartz - Trabalho na Índia e na China, onde fazemos mudanças radicais porque a sociedade quer e precisa. Mas New Orleans é muito singular. Incluímos algumas mudanças, como o conceito de descentralização, com 17 núcleos para dar vida aos bairros, tornando-os mais seguros porque as pessoas não precisam se deslocar muito até chegar a lugares com acesso à infraestrutura. O projeto que eu trabalhei estava orçado em US$ 18 bilhões, mas talvez tenha sido usado US$ 1 bilhão. A crise econômica dificultou muito. Pelo menos, a cidade tem um plano diretor e um dos princípios é a descentralização. Há muito trabalho a ser feito.