Reunido desde as 6h da manhã desta segunda-feira, o presidente deposto Fernando Lugo instaurou um governo paralelo no Paraguai, em claro desafio ao presidente Federico Franco. Onze ministros participaram da reunião, na sede do Partido País Solidário, no centro de Assunção. Após o encontro, ele falou aos jornalistas. Referiu-se a si mesmo como "presidente" e rejeitou a autoridade de Franco. Classificou a instauração do governo de resistência como um "gabinete nas sombras" e confirmou que irá à Cúpula do Mercosul, em Mendoza, esta semana, para explicar a quebra da ordem institucional no país.
Ao ser questinado sobre a mudança de postura - na sexta-feira, ele aceitou a decisão do Congresso de afastá-lo do poder e, desde ontem, tem adotado um tom de resistência, Lugo afirmou que acatou o impeachment para evitar um massacre nas ruas:
- Fomos submetidos a um juízo político e não vamos dar esse prazer aos promotores da morte, que provocaram morte de agricultores e policiais - disse, ao lembrar que, em frente ao Congresso, na sexta-feira, havia 5 mil pessoas que poderiam entrar em confronto com a polícia.
Ao ser perguntado sobre a possibilidade de atuar como mediador para restabelecer o apoio internacional ao Paraguai, Lugo afirmou que Franco não tem autoridade para convocá-lo:
- Federico Lugo, não digo presidente Franco..., não tem autoridade política para convocar o presidente Lugo para ser mediador nos conflitos internacionais.
A primeira pergunta da entrevista coletiva foi de Zero Hora. Lugo foi questionado sobre os brasiguaios, produtores rurais de dupla-cidadania que vivem na fronteira com o Brasil e que já manifestaram apoio a Franco.
- Tivemos um bom relacionamento com o Brasil justamente sobre seus interesses aqui no Paraguai. Eles têm todo o direito de pedir ao governo da companheira Dilma que reconheça esse governo. Mas creio que o governo do Brasil vai avaliar que não é o único interesse que tem o país em seu relacionamento com o Paraguai. Em um histórico encontro com o presidente Lula, um dos pontos que tínhamos era salvarguardar os interesses dos brasiguaios. É legítimo o pedido de cidadãos brasileiros, mas o acordo que fizemos com o presidente Lula tinha 30 pontos. Um dos pontos é o deles.