As negociações com o Irã sobre seu controverso programa nuclear acabaram sem qualquer avanço, anunciou nesta sexta-feira o chefe dos inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).
- Não houve avanço algum na reunião realizada em Viena - declarou à imprensa Herman Nackaerts, que classificou esse resultado de "decepcionante".
Nackaerts diz ter apresentado um texto revisado que "leva em conta as preocupações expressas anteriormente pelo Irã", mas os interlocutores iranianos "enfatizaram outros assuntos já discutidos e agregaram novos", disse, completando que não foi estabelecida uma data para a nova reunião.
O embaixador iraniano na AIEA, Ali Asghar Soltanieh, reiterou, por sua vez, a vontade de seu país de dissipar todas as preocupações relativas aos objetivos de seu programa nuclear:
- Estamos dispostos a superar todas as ambiguidades para provar ao mundo que nossas atividades são exclusivamente pacíficas e que nenhuma das acusações (de que ocultam um objetivo militar) é verdadeira.
O objetivo do encontro consistia em concluir um acordo marco que tornasse possível aos inspetores da AIEA ter um acesso crescente a todos os locais, pessoas e documentos que pudessem ajudá-los a esclarecer a natureza do programa nuclear iraniano.
Em um relatório em novembro, a AIEA divulgou uma lista de elementos que indicavam, segundo a agência, que o país trabalhou para desenvolver a bomba atômica antes de 2003, e possivelmente também depois. Após uma alentadora reunião celebrada em meados de maio, o diretor-geral da AIEA, Yukiya Amano, realizou uma viagem relâmpago a Teerã e proclamou, em seu retorno em 22 de maio, que estava próxima a conclusão de um acordo. No entanto, nada ocorreu desde então.
Amano mostrou-se muito mais cauteloso em 4 de junho: "Esperamos que um acordo seja assinado o quanto antes", declarou paralelamente ao conselho de governadores da AIEA.
A agência quer acessar prioritariamente a área militar de Parshin, onde suspeita que sejam realizados testes de explosões convencionais aplicáveis ao plano nuclear. Ela teme também, apoiando-se em imagens via satélite, que as autoridades estejam limpando o local.
As grandes potências e Israel suspeitam que o Irã esteja desenvolvendo a arma nuclear sob pretexto de um programa civil, o que Teerã desmente.
A ausência de avanços em Viena ofusca a reunião de Moscou entre o grupo 5+1 (Estados Unidos, China, Rússia, Grã-Bretanha, França e Alemanha) e Irã prevista para 18 e 19 de junho.
Após duas rodadas de negociações em Istambul em abril, e depois em maio em Bagdá, as duas partes apenas puderam constatar suas divergências, em particular sobre a polêmica atividade de enriquecimento de urânio a 20%, que aproxima o país do nível de enriquecimento necessário para a fabricação da bomba (90%).
Os ocidentais querem agora gestos concretos do Irã. Em caso de não haver progressos nas negociações, um embargo europeu contra o petróleo iraniano poderia entrar em vigor em 1 de julho.
O presidente iraniano, Mahmud Ahmadinejad, afirmou que seu país quer manter as negociações e não tenta fabricar armas atômicas, "mas as grandes potências parecem querer encontrar uma solução", declarou, segundo a agência Isna.
O presidente chinês, Hu Jintao, citado na sexta-feira pela agência oficial Xinhua, pediu que Mahmud Ahmadinejad seja "flexível" e "pragmático" nestas conversas.