Yubari, Japão - A maioria dos habitantes já abandonou esta cidade de ruas vazias e escolas fechadas, cujo governo, falido, sucumbiu ao peso das dívidas e da situação demográfica que vêm lentamente afligindo todo o Japão.
Hoje, Yubari, uma antiga cidade mineradora na ilha mais ao oeste do Japão, Hokkaido, espera que um salvador improvável reverta o seu longo processo de decadência: um prefeito novato de 31 anos de idade, que passou a simbolizar o esforço enfrentado pelos jovens japoneses na nação mais idosa e endividada do mundo.
- O Japão seguirá o mesmo caminho algum dia - disse Naomichi Suzuki, que, em abril do ano passado, tornou-se o prefeito mais jovem da cidade cuja população envelhece mais rapidamente em todo o país. - Se conseguirmos salvar Yubari, o que isso significará para o resto do Japão?
De fato, as dificuldades da cidade e seus esforços de recuperação, que têm recebido atenção da mídia nacional, podem oferecer uma visão do futuro do Japão.
A população geral do Japão foi reduzida em um quarto de milhão de pessoas, para 127,8 milhões no ano passado, devido à redução da taxa de natalidade e à migração de pessoas para outros países. Até o ano de 2060, calcula-se que população japonesa será reduzida em mais um terço, para até 87 milhões, e que 40 por cento das pessoas restantes terão mais de 65 anos de idade.
A dívida interna do Japão não preocupa o mundo tanto quanto a da Europa. Mas, depois de anos de gastos governamentais para tentar equilibrar a economia, a dívida pública do Japão chegou a US$ 12 trilhões, mais que o dobro do tamanho de sua economia, atingindo o grau de endividamento mais alto do mundo. (O tesouro consegue continuar bancando a dívida através da emissão de títulos do governo, porque o Japão, como os Estados Unidos, continua sendo um paraíso global de investimento.)
Mas em Yubari, a ruína demográfica e fiscal está logo adiante. A população da cidade foi reduzida em 90 por cento desde a sua era de ouro como polo mineiro nos anos 1950 e 1960. Atualmente, menos de 10.500 pessoas vivem em uma área geográfica equivalente à da cidade de Nova York. E dos habitantes restantes de Yubari, quase a metade tem mais de 65 anos.
Ao contrário do governo nacional, Yubari já encarou as dividas que tem com seus credores. Prejudicada pelo fechamento de suas minas de carvão, quando o Japão passou a utilizar combustíveis petrolíferos e energia nuclear, e depois de uma tentativa fracassada de ressuscitar a economia do turismo através de subsídios do governo central, Yubari decretou falência em 2007, com uma dívida de mais de US$ 400 milhões com os detentores de seus títulos municipais.
De acordo com a legislação japonesa, a dívida ainda precisa ser paga, seguindo um cronograma de reorganização sob a qual a cidade funcionará nos próximos 15 anos.
Os serviços públicos da cidade foram severamente cortados, e os cerca de 300 funcionários públicos da ilha foram reduzidos pela metade. Os festivais de inverno de Yubari foram cancelados, o balneário público foi fechado e as seis escolas primárias foram reduzidas a uma. O tsunami de março de 2011 prejudicou ainda mais o turismo local.
Yubari reduziu o serviço de limpeza de neve, e o seu adorado museu de arte desabou sob o peso da neve acumulada. A cidade não teve dinheiro suficiente para a reconstrução.
Até os produtores dos famosos melões da região, que são vendidos por quase US$ 100 a unidade, estão passando por dificuldades depois que a geração mais jovem deixou as fazendas à procura de empregos melhores em outras regiões. Enquanto isso, o punhado de empresas que continua na região reclama da escassez de trabalhadores; apenas quatro dos 20 funcionários da indústria farmacêutica Tsumura, de Yubari, moram de fato na cidade.
- Algo precisava ser feito para reduzir os gastos - disse Shizuo, um funcionário escolar aposentado de 77 anos, que passou a sua vida inteira em Yubari. - Mas todos os que têm alguma perspectiva para o futuro estão deixando a cidade.
Foi em meio a essa situação desesperadora que Suzuki, funcionário público do serviço de previdência social de Tóquio, que na época tinha apenas 26 anos, foi enviado a Yubari em uma missão de um ano pelo Governo Metropolitano de Tóquio.
Segundo relatos, ele ganhou rapidamente o respeito dos habitantes locais, voluntariando-se para ajudar a ressuscitar o festival de cinema anual da cidade e conferindo regularmente o bem estar de seus vizinhos idosos. (Suzuki admite que não tinha muito mais o que fazer durante as longas tardes de inverno.) A população mais jovem da cidade, por sua vez, passou a considerá-lo um líder de sua geração.
Suzuki começou a defender uma nova maneira de pensar em Yubari: E se a cidade se esforçasse mais para resguardar os seus serviços públicos mais essenciais e negociasse termos melhores para a quitação de sua dívida com o governo central?
Ele começou uma pesquisa de porta em porta para compreender melhor como os cortes estavam afetando o padrão de vida da população. Ele também defendeu a criação de encontros regulares com o governo central e a subdivisão administrativa de Hokkaido, para discutir a quitação da dívida.
No final de 2010, oito meses depois de Suzuki voltar para o seu antigo emprego no governo de Tóquio, um grupo de habitantes de Yubari entrou em contato com ele com um pedido audacioso: voltar para a cidade e candidatar-se a prefeito.
- Precisávamos de uma ruptura com o passado, e ele representava um novo começo - disse Naoya Sawada, empresário de 44 anos que foi um dos primeiros apoiadores de Suzuki e produz o festival renovado de cinema. - Ele é jovem e é um forasteiro, mas isso pode ser bom para Yubari.
Apesar disso, Suzuki não tinha muita experiência política e era relativamente desconhecido. Ele parecia não ter muita chance contra seus adversários, Hajime Fujikura, ex-executivo do setor automobilístico, de 70 anos, e Yukari Iijima, ex-parlamentar nacional, de 46 anos.
De repente, algo incrível aconteceu neste país que costuma ser dominado pelos mais velhos. Quando Fujikura descobriu que o jovem Suzuki pretendia se candidatar, abandonou a sua candidatura e aceitou um lugar na câmara municipal.
Encorajada, a campanha de Suzuki ganhou fama. Atravessando a neve pesada e exibindo o seu sorriso vencedor, Suzuki visitou mais de 5.000 das 6.000 casas da cidade, propagando a sua mensagem: Yubari pode ser salva. O governador de Tóquio, Shintaro Ishihara, viajou até Yubari para apoiar seu antigo funcionário.
Um número enorme de votos levou a uma vitória arrebatadora de Suzuki sobre Iijima, que encarou as câmeras da imprensa com estupefação. Uma multidão de aposentados compareceu ao primeiro discurso do jovem prefeito à câmara municipal, alguns vestindo camisetas com o seu nome.
No seu primeiro ano como prefeito, Suzuki trabalhou com rapidez, abolindo o posto de vice-prefeito e utilizando o dinheiro resultante em saúde pública para as crianças da cidade. Ele está planejando a venda de alguns dos investimentos fracassados da cidade, como a Melon Castle, uma destilaria no sopé das montanhas de Yubari, que hoje está abandonada.
- Ele é como um filho ou neto para muitos de nós - disse Machiko Yoshikawa, uma posentada local, de 64 anos. - Ele está dando muito duro por Yubari.
Suzuki também tem pressionado o governo central a reduzir o prazo de quitação da dívida de Yubari, uma estratégia que livraria a cidade mais rapidamente das restrições orçamentárias do sistema de proteção contra falência. Mas, com as receitas fiscais também prejudicadas pela crise econômica, um novo acordo das dívidas parece ser um sonho distante.
A falta crônica de fundos também atrasou o progresso de Suzuki. Foram adiadas, por exemplo, obras extremamente necessárias no único hospital público da cidade, um edifício cinza em péssimo estado de conservação, que hoje conta com apenas 19 dos seus 170 leitos originais.
Enquanto isso, os funcionários do município reclamam entre si que Suzuki mexeu tanto na equipe da prefeitura que bagunçou todas as suas estratégias de trabalho. Apoiadores do derrotado Iijima dominam a câmara municipal, bloqueando propostas e criticando o jovem prefeito.
Mas os críticos não podem negar que Suzuki está se sacrificando por Yubari. Ele não apenas é o prefeito mais jovem do Japão, mas também deve ser o mais mal pago. Seu salário anual de 3,74 milhões de ienes (cerca de US$ 46.000) é um terço menor do que o que recebia em Tóquio e menos do que alguns salários iniciais da cidade.
Inicialmente, foi-lhe negado um empréstimo para comprar uma casa em um conjunto habitacional de Yubari, construído há 60 anos, porque seu mandato como prefeito era menor do que o prazo de cinco anos de emprego fixo necessário para conseguir uma hipoteca nova. E Suzuki e Manami, sua esposa há um ano, já registraram seu casamento na prefeitura, mas não sabem quando conseguirão pagar por uma cerimônia.
- Tanto Yubari quanto eu temos uma montanha de dívidas - disse Suzuki, brincando.
- De muitas maneiras, o fato de o Japão estar tão endividado não é exatamente culpa da minha geração - ele disse. - Mas culpar os outros não vai nos levar a lugar algum. Precisamos apenas encontrar uma maneira de seguir em frente. Esta é a responsabilidade de todos nós que nascemos nesta era.