Uma nova manifestação maciça contra a hegemonia de Vladimir Putin na Rússia mostra que o movimento de protesto ganhou uma força crítica e que o premier precisa se comprometer com a mudança ou correr o risco de perder poder, afirmam analistas.
Embora a passeata de sábado não vá, sozinha, depor Putin, sua antes imbatível popularidade ficou irreparavelmente danificada e o resultado das eleições de 2012, muito mais incertos do que um mês atrás, afirmaram.
Inicialmente provocado pelas afirmações generalizadas de violações notórias nas eleições legislativas de 4 de dezembro, que resultou em uma maioria reduzida para o partido de Putin, o movimento de protesto agora visa crescentemente o próprio homem-forte da Rússia.
Putin agora enfrenta uma campanha turbulenta para as presidenciais de 4 de março, após as quais ele planeja voltar ao Kremlin para um terceiro mandato, após ocupar por quatro anos o posto de primeiro-ministro.
- Outros países elegem um funcionário público, um gestor. Para a Rússia se trata de um caso de amor que virou ódio - disse Alexander Konovalov, presidente do Instituto de Avaliação Estratégica. - Putin não vai sobreviver a um mandato presidencial, a menos que haja mudanças muito sérias para satisfazer o povo. Houve uma deslegitimação das autoridades e isso é muito sério - emendou.
Dezenas de milhares de pessoas participaram do protesto em Moscou, a segunda passeata maciça da oposição em um mês e que foi inclusive maior e com críticas mais contundentes a Putin do que a primeira, realizada duas semanas atrás.
- As autoridades tentam responder, mas estão ficando sem tempo -avaliou Nikolai Petrov, analista do Centro Carnegie de Moscou. - Há um risco de revolução porque na condição de um deserto político, não há partidos nem políticos para canalizar esta gigantesca energia social para uma solução construtiva - continuou.
Muitos russos parecem se sentir insultados pela decisão de Putin de retornar ao Kremlin no pleito de março, um movimento que apresentou como um fato concreto em um anúncio, em setembro, de troca de funções com o atual presidente Dmitri Medvedev.
- Putin ainda tem uma grande chance de ser reeleito, mas ele não conseguirá reverter a queda de sua popularidade. Após as eleições ele terá que mudar seu sistema pessoal de política - acrescentou Petrov. - Mas eu não penso que Putin seja capaz disto - acrescentou.
Após o anúncio de setembro, as taxas de aprovação a Putin sofreram baixas históricas e as pesquisas demonstraram no início do mês que ele não conseguirá garantir a vitória no primeiro turno.
Já no verão (boreal) de 2010, Putin estava tão seguro de sua popularidade que ele viajou pela Sibéria, acompanhado da jornalistas representantes da imprensa partidária, posando para fotos sem camisa em meio a cenários da natureza russa.
Mas ele parece ter perdido a mão neste verão, quando viajou de carro para o sul do país e "descobriu" antigas urnas gregas que depois se descobriu terem sido postas ali especialmente para que ele pudesse encontrá-las.
Um pouco antes das eleições legislativas, em um sinal do descontentamento popular Putin foi inesperadamente vaiado por admiradores descontentes, ao entrar no ringue após a disputa de uma luta.
- As autoridades precisam fazer avanços extraordinários para sair bem disto - afirmou Yevgeny Gontmakher, diretor do Centro para Políticas Sociais do Instituto de Economia, em Moscou. - Não queria estar na pele deles, mas eles entraram nessa e ignoraram os sinais de alerta - emendou.
O porta-voz do primeiro-ministro, Dmitri Peskov, disse em declarações que os protestos refletem a opinião da minoria dos russos, enquanto Putin ainda tem o apoio da maioria.
O premier considerou a primeira marcha insignificante, disse que estava aprendendo a jogar hóquei no gelo e comparou as fitas brancas que os oposicionistas põem nas golas das roupas como símbolo de protesto a preservativos.
Em cenas impensáveis apenas um mês atrás, os manifestantes responderam no sábado com fortes palavras de ordem. Enquanto preservativos eram distribuídos, um dos cartazes dizia: "Sabemos que você quer de novo. Mas estamos com dor de cabeça!"
"Eu não sei o que vai acontecer em seguida, mas (a eleição de) o 4 de março não será como planejado", escreveu a comentarista Olga Bakushinskaya em seu blog. "Os russos demoram em tomar uma decisão, mas quando tomam, agem rápido".
Hegemonia questionada
Relação de amor entre Putin e Rússia parece ter chegado ao fim
Premier precisa se comprometer com a mudança ou deve perder poder, afirmam analistas
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