Marco Aurélio Cardenas Acosta, morto na capital paulista por um policial militar na quarta-feira (20), era estudante do quinto ano do curso de Medicina na Universidade Anhembi Morumbi e atuava como MC. Ele foi baleado com um tiro no peito durante uma tentativa de abordagem e não resistiu.
Em 2021, Acosta divulgou um vídeo de uma música que compôs sobre "um amigo morto a tiros pela polícia na porta de casa". A canção diz: "Quando um amigo morre, deixa um vazio na alma. Sentimos falta das conversas, momentos de risada. Ô, meu aliado, você vai deixar saudade. Amigos nós seremos, pra toda eternidade. Inevitavelmente, o que aconteceu? Tremenda injustiça com um amigo meu. Morto a tiros pela polícia na porta de casa, ele era trabalhador e nem mexia em fita errada".
No medley, MC Boy da VM, como se apresentava Acosta, canta ainda sobre o caso ter virado estatística e o sofrimento da família. "Essa eu fiz de coração", acrescenta no fim do vídeo.
Em outro conteúdo do YouTube, o rapaz explica que começou no funk em 2020, que VM significava Vila Mariana e que a inspiração para o nome artístico foi o MC Boy do Charmes.
"Numa conversa com meu irmão, de brincadeirinha, estava varrendo o chão e comecei a fazer o cabo da vassoura de microfone. Meu irmão, vendo a cena toda, começou a rir de mim e aí eu falei: 'Você está desacreditando? Este ano eu vou virar MC'", conta ele na publicação.
O gosto de Acosta por música foi ressaltado na quarta-feira pelo irmão Frank Cardenas, que escreveu nas redes sociais: "A alegria da nossa casa, da nossa família, foi embora. Meu melhor amigo foi embora".
Cardenas mencionou ainda que o caçula era carinhoso e lamentou o fato de que não poderão mais estar juntos: "Ele era minha pessoa".
Além do funk, Acosta era apaixonado por futebol e integrava o time dos alunos de Medicina da Universidade Anhembi Morumbi, onde era conhecido como "Bilau". Em nota de pesar publicada nas redes sociais, a equipe afirmou que o estudante será lembrado com amor e carinho.
Corregedoria apura o caso
Imagens da câmera de segurança de um hotel da Vila Mariana mostram Acosta entrando no estabelecimento correndo, seguido por um policial militar que o puxa pelo braço, empunhando a arma.
Um segundo policial aparece, dando um chute no jovem, que segura seu pé e o faz desequilibrar.
Em seguida, o policial de arma em punho dispara na altura do peito da vítima.
Na versão divulgada pela Secretaria de Segurança Pública (SSP) do Estado de São Paulo, o jovem teria golpeado uma viatura e tentado fugir em seguida. Ele teria investido contra os policiais ao ser abordado e foi ferido por um disparo (o momento captado pela câmera de segurança do hotel).
O rapaz foi levado ao Hospital Ipiranga, mas morreu na manhã da quarta-feira.
De acordo com o portal g1, os policiais militares Augusto Macedo e Bruno Carvalho do Prado foram afastados de suas funções até o final das investigações. Informação foi confirmada pela Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP), que ainda informou que os PMs já prestaram depoimentos.
A arma do policial responsável pelo disparo foi apreendida e encaminhada à perícia, e as polícias Civil e Militar apuram as circunstâncias da morte. "Os policiais envolvidos na ocorrência prestaram depoimento, foram indiciados em inquérito e ficarão afastados até a conclusão das investigações", afirma a pasta.
Ainda de acordo com a SSP, as imagens registradas pelas câmeras corporais serão anexadas aos inquéritos conduzidos pela Corregedoria da Polícia Militar e pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).
Pais cobram explicações de governador e polícia de São Paulo
Os pais de Acosta, Silvia Mônica Cardenas Prado e Julio Cesar Acosta Navarro, casal de médicos peruanos naturalizados brasileiros que se mudou para Brasil há mais de duas décadas, cobraram explicações da polícia e do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Silvia disse acreditar que caso se trata de xenofobia e que “qualquer mãe vai se revoltar” ao ver o filho “caído, com suas mãos tentando se defender, e o policial dando um tiro na barriga”.
— O que justifica matar um menino de 22 anos, caído, e que ainda está sem camiseta, que não tem onde ocultar uma arma? O que está acontecendo com a polícia brasileira? — questiona Silvia em entrevista ao g1.
A Ouvidoria das Polícias criticou o uso de força na abordagem. O ouvidor Claudio Silva afirmou que a ação é "mais um reflexo da lógica que está instalada no Estado de São Paulo, de polícia que mata. Polícia que não respeita a vida”.
De janeiro a setembro deste ano, a polícia de São Paulo matou 496 pessoas, o maior número para o período desde 2020, quando ocorreram 575 mortes.