Relatório preliminar sobre a chuva que atingiu o Rio Grande do Sul na semana passada revelou que aproximadamente 10 mil construções foram impactadas pelas inundações, com 67% delas sofrendo danos significativos. O mapeamento abrangeu as localidades de Santa Tereza, Muçum, Encantado, Roca Sales, Lajeado e Estrela.
O estudo foi realizado pelo Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). A mesma instituição afirmou, há cerca de uma semana, que a cheia que causou enchente nas cidades gaúchas poderia ter sido prevista "com quase 24 horas de antecedência".
Conforme o professor Joel Gondelfum, que é diretor do IPH, o relatório apresenta um levantamento feito a partir de imagens de satélite das regiões afetadas. Este documento representa o ponto de partida de uma colaboração entre o instituto e a Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema) do governo estadual. Os dados ainda requerem confirmação por meio de uma validação presencial nos respectivos locais.
— Mesmo preliminar, é um documento importante para entender o que aconteceu. Conseguimos ver, por exemplo, por onde a água passou, os limites das áreas inundadas, onde o fluxo foi mais intenso e quanto de sedimento foi carregado — explicou Goldenfum em entrevista ao g1.
Mapeamento
O número total de edificações afetadas ultrapassou 10 mil, correspondendo a cerca de 11,6% das propriedades na área. Dessas, 1,4 mil foram completamente submersas em profundidades superiores a seis metros, 2,4 mil ficaram submersas em uma faixa de profundidade entre três e seis metros, enquanto 3,1 mil tiveram até três metros da estrutura abaixo da água.
De acordo com a Defesa Civil, quase 360 mil pessoas foram afetadas pelas enchentes no RS e 765 seguem desabrigadas.
Em Estrela, o município que registrou o maior número de edificações impactadas, houve 2,7 mil imóveis afetados pelas inundações. Já em Muçum, a cidade que sofreu a maior porcentagem de danos, aproximadamente 35% das propriedades foram afetadas, com muitas delas sofrendo danos permanentes.
— O que chama atenção são os fluxos muito rápidos e violentos de água em regiões em que isso normalmente não acontece. Foi um evento muito excepcional. Normalmente, em cidades como Lajeado e Estrela, são comuns esses eventos, mas a água tem baixíssima velocidade e rapidamente volta. Neste caso, houve altas velocidades e muito volume — contou Goldenfum.
Próximos passos
A partir de agora, a colaboração entre o IPH e a Sema deve estabelecer protocolos com o objetivo de prevenir ocorrências como essa. Conforme destacado pelo IPH, as informações fornecidas no relatório "podem ser utilizadas para auxiliar no planejamento relacionado à resposta e à preparação para futuros eventos de enchente".
Sugere-se a implementação de medidas como a formulação de uma estratégia estadual voltada para a desapropriação e reconfiguração de áreas de risco, com a criação de fundos específicos para essa finalidade. Além disso, propõe-se a elaboração de planos diretores de proteção contra enchentes, com a definição de usos mais apropriados para cada região.
— Em algum momento, isso vai envolver realocação de pessoas. Tem áreas que são indignas para pessoas habitarem, com enchentes a cada dois ou três anos — completou o professor.
Nota técnica do IPH
"Esta nota técnica apresenta os métodos e resultados de uma estimativa preliminar de edificações atingidas pela enchente do Rio Taquari-Antas entre 4 e 5 de Setembro de 2023. Foram cruzadas informações de edificações mapeadas por inteligência artificial e a mancha de inundação mapeada por sensoriamento remoto. Dados topográficos também foram utilizados. Os resultados consistem em quantitativos das edificações atingidas e do grau de submersão das edificações. Estima-se que em torno de 10 mil edificações foram afetadas nos municípios avaliados. O município de Estrela teve o maior número absoluto (2,7 mil) e Muçum o maior percentual relativo (35%). Do total de edificações atingidas, 67% apresentou um grau de submersão grave. Os resultados apresentados podem ser utilizados para fins de planejamento de políticas públicas, no auxílio à estimativas de danos em caráter preliminar e custos de adaptação."