Uma mulher negra foi obrigada a se retirar de um avião da Gol, que partia de Salvador, na Bahia, com destino ao Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, na noite de sexta-feira (28), após ter dificuldade para guardar uma mochila no compartimento de bagagens dentro da aeronave e reclamar da situação.
Em vídeo (veja abaixo) publicado nas redes sociais e compartilhado pelo apresentador da TV Globo Manoel Soares, Samantha Barbosa, 31 anos, narra o problema. Durante a gravação, agentes estão próximos dela. Outros passageiros condenaram a atitude, a qual julgaram como desproporcional e racista.
Com o apoio de outros dois viajantes, citados por Samantha no vídeo, ela conseguiu acomodar a mochila. Mesmo assim, a decolagem atrasou e três agentes da Polícia Federal entraram no avião para retirar a passageira da aeronave.
— Se eu despachasse meu laptop, ele iria ficar em pedaços. Os comissários não moveram um dedo para me ajudar. Quem me ajudou foi esse senhor e esta senhora (apontando para eles no vídeo). Em três minutos, a gente conseguiu dar um jeito e colocar minha mochila. Os comissários falaram que se a gente pousasse em Guarulhos (o voo tinha como destino Congonhas), a culpa seria minha, porque eu não queria despachar a mochila. Ele teve a coragem de falar isso para mim — disse a mulher, em pé entre os agentes federais, no corredor dentro do avião.
Em nota, a Gol afirma que havia grande quantidade de bagagens para serem acomodadas a bordo e muitos clientes colaboraram despachando volumes gratuitamente. "Mesmo com todas as alternativas apresentadas pela tripulação, uma cliente não aceitou a colocação da sua bagagem nos locais corretos e seguros destinados às malas e, por medida de segurança operacional, não pôde seguir no voo", relatou a companhia.
Em razão da falta de espaço no compartimento de malas, a tripulação do voo G3 1575 (Salvador - Congonhas) da companhia aérea teria pedido que a passageira despachasse a mochila. Ela não quis fazer isso porque havia risco de danos ao computador no compartimento de carga.
— A culpa não é porque o voo está mais de duas horas atrasado, a culpa seria minha. Sendo que faz mais de uma hora que eu coloquei a mochila aqui e mesmo assim o voo não decolou. Agora, tem três homens para me tirar do voo sem me falar o motivo — afirmou ainda Samantha em imagens captadas por outra passageira.
Neste momento do vídeo registrado dentro do avião, o primeiro agente se aproximou e disse que ela estava faltando com a verdade.
— Eu lhe disse que estou lhe tirando da aeronave por determinação do comandante — afirmou ele.
A mulher seguiu questionando o motivo. Os policiais se aproximaram para retirá-la do avião, enquanto ela perguntava se agiriam com violência.
— É questão de segurança de voo — afirmou o policial federal, que tinha em mãos um documento.
Ao fundo do vídeo, é possível ouvir críticas de outros passageiros. O Estadão tentou contato com a passageira expulsa do voo, que não se manifestou. Também procurada, a Polícia Federal ainda não se pronunciou.
Mulher ficou oito horas na delegacia
Samantha precisou passar a madrugada na delegacia do Aeroporto Luís Eduardo Magalhães, em Salvador. A contar do momento em que foi expulsa da aeronave, ela ficou oito horas no local.
O jornalista Manoel Soares, que compartilhou o caso, acionou o advogado Rodrigo Santos para ajudar Samantha. Segundo o defensor jurídico, não há elementos que justifiquem qualquer tipo de expulsão contra a mulher.
— Depois que ela saiu do avião foi conduzida à unidade da PF que fica no aeroporto e, lá, ela se encontrou conosco (ele e a advogada Rebeca Leonardo) e começamos a oitiva. Acompanhamos a lavratura de um Termo Circunstancial de Ocorrência que, no nosso entender, carecia de justa causa. Ou seja, não havia elementos fáticos ou probatórios que indicassem a prática de um ato penalmente relevante — afirma.
Posicionamento na íntegra da Gol
"A Gol informa que, durante o embarque do voo G3 1575 (Salvador - Congonhas), havia uma grande quantidade de bagagens para serem acomodadas a bordo e muitos clientes colaboraram despachando volumes gratuitamente. Mesmo com todas as alternativas apresentadas pela tripulação, uma cliente não aceitou a colocação da sua bagagem nos locais corretos e seguros destinados às malas e, por medida de segurança operacional, não pôde seguir no voo.
Lamentamos os transtornos causados aos clientes, mas reforçamos que, por medidas de segurança, nosso valor número 1, as acomodações das bagagens devem seguir as regras e procedimentos estabelecidos, sem exceções. A companhia ressalta ainda que busca continuamente formas de evitar o ocorrido e oferecer a melhor experiência a quem escolhe voar com a Gol e segue apurando cuidadosamente os detalhes do caso."