O jornalista Carlos Machado Fehlberg, que dirigiu a redação de Zero Hora entre os anos 1970 e 1990, morreu neste domingo (15) às 9h50, aos 88 anos, em Florianópolis, Santa Catarina. Ele estava internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Baía Sul, na capital catarinense, desde a última terça-feira (10).
Carlinhos, como era chamado pelos amigos e familiares, há alguns anos enfrentava problemas de saúde causados por um acidente vascular cerebral (AVC) e outros episódios, como um infarto agudo do miocárdio, sofrido no dia 8 de janeiro, e insuficiência renal. Ele era casado com Estela Benetti, colunista de Economia do NSC Total, e estava acompanhado da esposa e das filhas em seus últimas dias no hospital.
Fehlberg começou no jornalismo nos anos 1950 e trabalhou no Jornal do Dia antes de ingressar em Zero Hora, nos anos 1960, quando passou a escrever sobre política estadual. Em 1968, deixou o posto para trabalhar na Secretaria de Imprensa da Presidência da República, e voltou em 1974, como diretor de redação, posto que ocupou até 1992. Depois, atuou na direção do Diário Catarinense entre 1992 a 1998, e foi membro do Conselho Superior da Associação Catarinense de Imprensa (ACI).
— Médico por profissão, jornalista por paixão e vocação, ele foi uma presença importante por muito tempo na direção de redação de Zero Hora. Ele deixou suas marcas de responsabilidade, dignidade e respeito pela profissão de jornalista até mesmo quando deixou de ser da ativa e foi para sua merecida aposentadoria. Saudade do Fehlberg e de suas lições para tantos jovens que com ele aprenderam e deram seguimento ao seu trabalho na nossa RBS — disse Jayme Sirotsky, presidente emérito do Grupo RBS.
Em nota de pesar, a ACI lembrou: “Leitor contumaz, dono de grande capacidade de trabalho e entusiasmado pelo propósito de informar, Fehlberg era dos primeiros a chegar e dos últimos a sair da redação, sempre preocupado em produzir o melhor jornal possível, com furos de reportagem, análises e textos de qualidade”, diz a nota.
Depoimentos de colegas
— Lembro-me bem de uma visita de Médici a sua terra natal, Bagé. Não sei mais por que, repórteres, fotógrafos e cinegrafistas resolveram fazer um protesto. Os da canetinha colocaram blocos e canetas no chão. Os das imagens, câmeras. Tenho gravado nitidamente na minha memória a figura do Fehlberg indo em nossa direção negociar o fim da “paralisação”. Demorou um pouco, mas ele se mostrou um bom negociador e teve sucesso na sua missão — recorda Nubia Silveira, que foi sua colega em Zero Hora.
— Fehlberg era espetacular: mesmo fora da redação, todo o dia descia para dar ideias, para sugerir pautas, para traçar um panorama sobre o o contexto jornalístico do momento. Era muito articulado, conhecia muita gente os meandros da política — disse Claudio Thomas, que sucedeu Fehlberg na direção da redação do Diário Catarinense.
— Fehlberg tinha uma memória invejável. Entrava no laboratório, pedia um foto de fulano de tal, assim e assado. A gente nem sempre achava, e ele: temos sim, foi publicada a uns seis meses atrás, na coluna tal. Mesmo que estivesse mal indexada, podia procurar que seria localizada. Foram muitos furos jornalísticos que resultaram da sua obstinação, como a morte da Princesa Diana, que fez o DC furar o Brasil inteiro — disse Júlio Cavalheiro, que trabalhou com ele como fotógrafo do Diário Catarinense.
— Fehlberg me contou um dia que foi o primeiro jornalista a assinar o documento (se não me engano da Associação Brasileira de Imprensa) que pedia o reconhecimento de que Vladimir Herzog não havia se suicidado, mas morto pelo DOI-CODI, em São Paulo. Como tínhamos maturidade para isso, eu perguntei "Foi o médico ou o jornalista que se convenceu disso?" Bom de redação, saiu -se com a resposta: "Nessas duas profissões, temos que saber ouvir e perguntar muito, muito. Um erro pode ser fatal. Não só pro paciente e pra fonte, mas também pro médico e pro jornalista" — disse Ângela Bastos, repórter do Diário Catarinense.
O velório será a partir das 8h de segunda-feira (16), na capela D do Cemitério Itacorubi. Às 11h haverá uma cerimônia de despedida e o sepultamento será às 11h30min, também no Cemitério Itacorubi.