Mais uma vez, carros de som foram apreendidos no Vale do Sinos disseminando mensagens antivacina. O novo caso foi registrado na tarde desta sexta-feira (4), em São Leopoldo.
Os dois veículos, uma Fiorino e um Uno Mille de cor branca, percorreram os bairros Campina, Cristo Rei e Scharlau. As mensagens reproduzidas descreviam como experimental a vacina contra a covid-19 para crianças. Moradores informaram a Guarda Civil Municipal (GCM), que localizou os veículos e os interceptou.
Um dos carros foi apreendido na esquina da Avenida Henrique Bier com a Rua Campo Bom, no bairro Scharlau. Outro foi abordado no bairro Cristo Rei. Os motoristas foram conduzidos para a Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento (DPPA) de São Leopoldo para registro de ocorrência e, depois, liberados.
Conforme a delegada, Ana Paula Rebelato, a liberação se deu pois o delito registrado foi de menor potencial ofensivo. Os veículos foram conduzidos provisoriamente a um depósito pela Polícia Civil. Os nomes do proprietário dos carros de som e do mandante da execução dos áudios não foram revelados.
A delegada explica que foi lavrado um boletim de ocorrência por perturbação de sossego e trabalho alheios. Ela não descarta, entretanto, que o conteúdo das mensagens possa ser enquadrado posteriormente em outro tipo de infração.
— É possível que o conteúdo seja enquadrado em outros crimes, levando em consideração que conforme o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) a vacina é obrigatória, ou como infração de medida sanitária. São possíveis enquadramentos, que serão analisados pelos delegados de cada região — pontua.
Os fatos foram registrados em regiões distintas e por isso as ocorrências foram encaminhadas para duas delegacias diferentes. Uma das ocorrências foi encaminhada para a 1ª DP de São Leopoldo, gerida pela delegada Cibele Savi, e a outra, para a 2ª DP, sob o comando do delegado Rodrigo Zucco.
Prefeitura vai acionar o MP
O prefeito de São Leopoldo, Ary Vanazzi, caracteriza como “negacionismo” a disseminação dos áudios. Ele ressalta que as crianças comumente são vacinadas desde o nascimento e atribui a resistência à campanha de imunização contra o coronavírus a um posicionamento político-ideológico fomentado pelo presidente Jair Bolsonaro. Segundo Vanazzi, a prefeitura vai acionar o Ministério Público para investigar o caso.
— O áudio é o mesmo de Novo Hamburgo. Os carros são do mesmo tipo. Nós vamos encaminhar o que temos de materialidade para o Ministério Público investigar. Vamos encaminhar todas as medidas cabíveis dentro da lei e vamos acompanhar os processos — ressalta o chefe do Executivo municipal.
Vanazzi acrescenta que a campanha de imunização infantil na cidade já alcançou pelo menos 3 mil das 15 mil crianças com idades até 11 anos de São Leopoldo. Ele frisa que com a campanha descentralizada, iniciada nesta quinta-feira (3), as famílias de baixa renda que residem em bairros afastados terão o acesso à vacina facilitado.
O secretário municipal de Segurança Pública e Defesa Comunitária, Nestor Schwertner, acompanhou a ação. “Queremos que a população denuncie. Estamos percebendo que há pessoas que depõem contra a saúde das crianças, da saúde da comunidade. Isso tem que acabar. Nós queremos preservar o direito das crianças e da população à saúde pública”, disse.
O titular da pasta destaca que os moradores que flagrarem veículos divulgando notícias falsas devem ligar para a GCM, no número 153, durante as 24 horas do dia.
Caso reincidente na região
A mensagem reproduzida no alto-falante é a mesma utilizada pelos carros de som apreendidos em Novo Hamburgo no dia 26 de janeiro. Embora tenham placas diferentes, os modelos dos automóveis também são idênticos.
A responsabilidade pela contratação dos carros de som em NH foi assumida um dia depois pelo empresário Elácio Hugendobler. De acordo com o advogado do empresário, José Lauri da Silva, ele não é o responsável pelas mensagens propagadas em São Leopoldo. O autor ainda não foi identificado.