RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - Morreu na manhã desta terça (8) a 18ª vítima do incêndio que atingiu há quase um mês o hospital particular Badim, no Maracanã, na zona norte do Rio de Janeiro. Paulo Coutinho, 77, faleceu no hospital Quinta D'Or, a cerca de dois quilômetros, para onde foi transferido na noite em que a unidade pegou fogo.
Segundo a direção da unidade, dos 124 pacientes e acompanhantes envolvidos na tragédia, 25 continuam internados, e todos os colaboradores já tiveram alta. Vários outros pacientes também seguem internados, mas para tratar das doenças que já tinham.
O idoso havia dado entrada no hospital há quatro dias para averiguar uma suspeita de pneumonia e já estava quase recebendo alta quando ocorreu o incêndio, segundo seu filho, o advogado Alexandre Luís Coutinho, 50. Como tinha cardiopatia e problemas renais, o médico optou por mantê-lo no quarto por mais um ou dois dias.
O filho conta que chegou a ligar para o seu celular por volta das 18h30, enquanto o fogo ainda consumia o prédio, mas só ouviu o pai tossindo e outra pessoa dizendo que estavam tentando resgatá-lo. Assim como outros pacientes, ele foi retirado pela janela pelo Corpo de Bombeiros.
"Só ficamos sabendo que ele ia para o Quinta D'Or por sorte, porque minha irmã conseguiu falar com ele quando ele estava sendo transferido. Em momento algum o Badim ligou para nos dizer que ele estava ali. O hospital não deu assistência, só pediu para levarmos documentos na última segunda, ficamos muito indignados", critica Alexandre.
Foi necessário entubá-lo naquela noite, porque ele teve um comprometimento muito grande das vias aéreas e do pulmão e não estava conseguindo respirar, diz. Ao longo do último mês, acabou tendo outras complicações no coração, pulmão e rim.
No último sábado (5), os médicos decidiram interromper a hemodiálise, que não fazia mais efeito. Paulo morreu às 8h17 desta terça. "Ele sofreu muito", lamenta o filho, que estava no IML (Instituto Médico Legal) tentando liberar o corpo quando falou com a reportagem.
O idoso era aposentado e tinha uma vida confortável em casa após 40 anos de carreira na Light. Era espírita praticante, se interessava por política e se casou três vezes. Deixa uma companheira, cinco filhos -um deles de 5 anos, adotado ainda bebê--, quatro netos e uma bisneta, além da mãe de 95 anos.
Procurado, o Badim lamentou o ocorrido, disse que aguarda o laudo da necrópsia para saber se houve correlação com o incêndio e negou que a família não tenha recebido assistência. Afirmou, em nota, que o paciente foi acompanhado por um médico do hospital.
"Todas as famílias receberam atendimento de um núcleo multiprofissional e uma assistente social vem mantendo mantendo diálogo direto com a esposa do paciente, orientando sobre todos os trâmites burocráticos e os encaminhando para serviço de apoio psicológico", disse.
O INCÊNDIO O incêndio no Badim começou no fim da tarde de 12 de setembro e fez pacientes serem retirados às pressas ainda nas macas. Com colchões e lençóis, funcionários improvisaram leitos em ruas próximas até que eles fossem levados para outros hospitais da região.
A maioria das vítimas morreu por inalação de fumaça, mas há casos em que as mortes foram decorrentes do desligamento de aparelhos com a queda da energia elétrica naquele momento, segundo o IML. Quase todas eram idosas, com idades entre 59 e 98 anos (veja os nomes abaixo).
As investigações para apurar as circunstâncias do fogo e as mortes ainda estão em andamento, mas já foi confirmado que o incêndio começou no gerador de energia localizado no subsolo do prédio mais antigo do hospital --que tem dois edifícios, um inaugurado em 2000 e o outro, em 2018.
Havia ali uma recepção, administração, lanchonete, uma unidade intensiva de curta permanência, CTI (Centro de Tratamento Intensivo), unidades de internação (em um dos andares desativada), 14 leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva), uma Central de Material e Esterilização (CME) e uma cobertura que armazenava equipamentos.
Nos dias seguintes à tragédia, funcionários foram ouvidos, e o prédio e o gerador foram periciados com a presença de técnicos da empresa responsável pelo equipamento. Até a noite desta terça, porém, a Polícia Civil do RJ não havia respondido em que fase está a apuração.
QUEM SÃO AS 18 VÍTIMAS DO INCÊNDIO
1. Alayde Henrique Barbieri, 96
2. Ana Almeida do Nascimento, 95
3. Ana Irene Freitas, 83
4. Berta Gonçalves Berreiro Sousa, 93
5. Darcy da Rocha Dias, 88
6. José Costa Andrade, 79
7. Ivone Cardoso, 75
8. Luzia dos Santos Melo, 88
9. Maria Alice Teixeira da Costa, 75
10. Marlene Menezes Fraga, 85
11. Virgílio Claudino da Silva, 66
12. Yolandina Gaspar, 87
13. Áurea Martins de Oliveira, 87
14. Mulher sem nome divulgado, 98
15. Homem sem nome divulgado, 86
16. Homem sem nome divulgado, 59
17. Homem sem nome nem idade divulgados
18. Paulo Coutinho, 77