Bruno Borges, o estudante acriano que desapareceu por cinco meses em 2017 deixando 14 livros criptografados (escritas em código) para trás, decidiu abrir o quarto para visita pública. É o jovem de 27 anos, segundo a BBC News Brasil, que recebe os interessados em conhecer sua obra na casa onde mora, em Rio Branco.
— (Meu quarto) é uma obra de arte. Eu trabalhei durante anos dentro daquele quarto, várias vezes me isolei ali para criar. Fiz muitos jejuns e retiros ali dentro — afirma ele à BBC News Brasil. — É difícil não sentir uma energia ao entrar dentro dele — completa.
O estudante de Psicologia sumiu de 27 de março a 11 de agosto de 2017. Na época do registro do desaparecimento, a polícia encontrou no quarto do estudante apenas 14 livros criptografados e uma estátua de dois metros do filósofo Giordano Bruno (1548-1600), condenado à morte na fogueira pela inquisição romana por heresia.
Os textos, que receberam o título de Teoria de Absorção de Conhecimentos, tratam de técnicas para potencializar a absorção e criação de conhecimentos e foram publicados em livro no fim de junho de 2017, durante o desaparecimento do estudante.
Até hoje o jovem se nega a revelar seu paradeiro e o que fez no período em que permaneceu desaparecido. À BBC, Borges relatou ter ficado completamente "isolado da sociedade, sem contato com quaisquer outras pessoas".
Questionado sobre as hipóteses que surgiram na época de seu desaparecimento, de que tudo não passaria de um golpe de marketing para o lançamento de seu livro, o jovem afirmou à reportagem que, para ele, isso "foi um efeito secundário, mas primário para a sociedade". Com tiragem de 20 mil exemplares — dos quais 2 mil foram vendidos, segundo o jovem —, a obra chegou a figurar entre os livros mais vendidos em um levantamento do site especializado PublishNews, mas foi um fracasso de crítica. "Em seus escritos, o autor defendia a necessidade de dormir pouco, não comer carne e abster-se de relações sexuais — em um percurso necessário para se transformar em um gênio. Além das ideias esdrúxulas, o texto saiu repleto de erros gramaticais e interpretações heterodoxas de obras filosóficas do cânone ocidental", relata a BBC.
— Acontece o seguinte: o livro foi publicado enquanto eu estava isolado. Todos sabemos que as obras estavam codificadas. Houve dificuldades na decodificação, o que fez com que o livro fosse publicado com imagens e palavras trocadas de lugar, sem sentido algum, e o português totalmente errado foi uma das consequências — justifica-se Borges. — As pessoas não entenderam o livro, assim como eu também não entendi, porque estava diferente do original. Ninguém tem culpa nisso, o livro chegou nas mãos da editora praticamente ilegível, ela fez o máximo para passar ao público a obra como deveria ser no original. Ainda assim, a intenção por trás do livro é clara: trata-se de um estudo para aprimorar a obtenção de conhecimentos e direcioná-los para algo produtivo, contribuindo para o coletivo.