Após aumento de 18% das mortes de motociclistas no trânsito da cidade de São Paulo em 2018, a prefeitura decidiu restringir o tráfego de motos na marginal Pinheiros -o veto já valia nas pistas expressas da marginal Tietê-, uma das alterações incluídas no Plano de Segurança Viária 2019-2028 para a cidade.
A medida, no entanto, não deve ser suficiente para reduzir os acidente com motos, segundo especialistas que debateram o tema nesta quarta-feira (26). Para eles, faltam campanhas de conscientização voltadas para a categoria e fiscalização adequada na cidade, além de uma regulamentação das empresas de aplicativos de entregas.
O debate ocorreu durante o 3º fórum Segurança no Trânsito, Mobilidade e Inovação, realizado pela Folha, com patrocínio da CCR e apoio da Plural (associação nacional de distribuidoras de combustíveis), no Rooftop 5 & Centro de Convenções, em São Paulo.
Em sua fala, Gilberto Almeida, presidente do Sindimoto-SP (Sindicato dos Mensageiros, Motociclistas, Ciclistase Mototaxistas Intermunicipal do Estado de São Paulo), criticou as medidas restritivas ao tráfego de motos, que, segundo ele, provocam segregação no trânsito.
É uma atitude muito radical e preconceituosa, só transfere o problema de lugar. A pista local [onde as motos passaram a poder trafegar] é onde passam os ônibus, o trânsito é muito mais pesado. Protocolamos um documento sugerindo que, em vez de mudar a malha viária, a velocidade na marginal Tietê volte a ser de 70 km/h, afirmou.
Segundo Almeida, o aumento de aplicativos de entrega complica a questão, porque coloca dezenas de milhares de motociclistas despreparados nas ruas, sem seguir a legislação de trânsito e aumentando a possibilidade de acidentes. Para ele, é importante que a prefeitura regulamente essas empresas e a relação de trabalho com seus entregadores.
Almeida não isentou de culpa os próprios motociclistas, mas disse que faltam campanhas de conscientização de respeito às leis de trânsito. O motociclista precisa saber que, se pilotar de maneira defensiva, vai preservar a vida dele e deixar a cidade mais harmônica. A prefeitura deveria trabalhar esse lado em campanhas, até hoje não vi nenhuma.
Outro problema é que as estratégias de redução de acidentes não têm como foco os motociclistas, segundo o consultor em segurança viária Horácio Figueira, que concordou que faltam campanhas de conscientização e uma maior regulamentação dos aplicativos de entrega.
De acordo com Figueira, os motoristas precisam ser responsabilizados por condutas de risco no trânsito, mas a fiscalização ainda foca esforços demais em multar, por exemplo, veículos estacionados de forma irregular. A vida vem primeiro. Estacionar em lugar errado ou desrespeitar o rodízio não mata ninguém, deveria ser a última prioridade e hoje é a primeira.
O consultor defendeu que a fiscalização seja repensada. "A chance de morrer no trânsito entre 3h e 4h da madrugada é 47 vezes maior do que das 18h às 19h em São Paulo."
Além das restrições às motos na marginal Pinheiros, o novo plano viário prevê a criação de áreas calmas, regiões da cidade em que os veículos não poderão trafegar a mais de 30 km/h.
Vivi Tiezzi, especialista em desenho urbano e mobilidade da Iniciativa Bloomberg para a Segurança Global no Trânsito, disse que o objetivo é garantir espaço para deslocamento confortável e seguro de todos os tipos de usuário, priorizando os pedestres, que são os mais vulneráveis.
Além da redução de velocidade, em áreas específicas também haverá intervenções nas vias, como o aumento de calçadas e a redução de faixas de rolamento. Diferente de só colocar placas de velocidade, serão ambientes construídos para induzir a maneira como os motoristas vão se comportar.
Apesar de considerar que as mudanças devem gerar resistência da população, Tiezzi afirmou que a queda do número de acidente acabará convencendo os opositores.
Segundo ela, a criação de um comitê de segurança viária permanente deverá fazer com que a iniciativa se mantenha no futuro, independentemente das mudanças de gestão.