BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Após um período de estagnação, o índice de brasileiros que se declaram como fumantes voltou a ter queda no país. Dados inéditos do Ministério da Saúde apontam que, em 2018, 9,3% da população adulta se declarava como fumante.
Para comparação, nos dois anos anteriores, esse percentual estava estagnado entre 10,2% e 10,1%.
Os dados são da última edição da pesquisa Vigitel, estudo realizado todos os anos e que monitora fatores de risco para doenças crônicas. Foram ouvidas 52.395 pessoas acima de 18 anos em todas as capitais do país.
Desde que a pesquisa Vigitel começou a ser realizada, o percentual de pessoas que se declaram fumantes caiu 40% -passou de 15,7% para 9,3%. O ritmo de queda, porém, vinha desacelerando nos últimos anos, chegando a uma estagnação entre 2016 e 2017.
Ainda não há explicações sobre o que levou a essa possível retomada na tendência. Para o Ministério da Saúde, porém, a queda pode ter relação com uma maior adesão às políticas de controle do tabagismo adotadas nos últimos anos.
"Mudar comportamento não é algo que se faz do dia para a noite, mas que aos poucos vai entrando no cotidiano", diz o diretor de doenças e agravos da pasta, Eduardo Macário, que comemora os dados. "Isso mostra o quanto essas políticas têm sido eficazes."
Especialistas ouvidos pela Folha de S.Paulo concordam. "Ainda é precoce para saber se há fatores específicos, mas o fato das políticas continuarem sendo debatidas e implementadas ajuda nessa tendência", diz Mônica Andreis, diretora-executiva da ACT, (antiga Aliança de Controle do Tabagismo).
Ela aponta, no entanto, algumas hipóteses.
Entre elas, está a adoção de novas imagens de advertências nas embalagens de cigarros, medida anunciada em 2017 e que entrou em vigor no início do último ano, e um possível aumento no debate sobre os impactos do tabagismo -fator que ganhou embalo com o julgamento no STF (Supremo Tribunal Federal) sobre a presença de aditivos de sabor e aroma nos produtos.
"A proibição de aditivos em cigarros ainda é alvo de embate judicial. Mas tudo isso leva à discussão do público. Numa análise preliminar, isso faz diferença para as pessoas se conscientizarem que de fato o tabagismo é prejudicial", afirma.
Apesar de celebrada, a possível retomada da queda no índice de fumantes não diminui a preocupação em relação ao tabagismo no país.
"Ainda consideramos o número como muito elevado. Não podemos nos dar como satisfeitos em aceitar uma prevalência nesse ponto. Precisamos trabalhar para que essa redução se mantenha", afirma Macário.
Um exemplo, diz, está na variação do índice de fumantes por grupos da população e entre regiões do país.
Em 2018, seis capitais apresentaram taxa de fumantes superior à média nacional. É o caso, por exemplo, de Porto Alegre, onde 14,4% dos adultos se declaram fumantes, além de São Paulo, com 12,5%, e Curitiba, com 11,4%. Já os menores percentuais foram registrados em Salvador e São Luís -ambas com 4,8%.
Dados da pesquisa Vigitel também mostram que os homens ainda fumam mais do que as mulheres. Entre eles, o índice é de 12,1%. Já entre elas, é de 6,9%.
O estudo aponta ainda que a população menos escolarizada é a mais vulnerável ao cigarro --ao todo, 13% dos entrevistados com até oito anos de estudo disseram ser fumantes. A taxa ficou em 6,2% entre aqueles com 12 ou mais anos de estudo.
Neste ano, as políticas de controle do tabagismo voltaram à pauta após o ministro da Justiça, Sergio Moro, criar um grupo de trabalho para avaliar uma possível redução de impostos sobre cigarros no país como alternativa para combater o contrabando.
A medida, porém, gerou críticas de entidades e do Ministério da Saúde, que apontam risco de que uma eventual redução de preços leve a um aumento no consumo, sobretudo entre a população de menor renda.
"Independente do cigarro ser ilegal ou taxado, ele tem risco de saúde comprovado em estudos, e isso não podemos desconsiderar", completa Macário.