A ativista Sabrina Bittencourt, 38 anos, responsável por reunir as primeiras denúncias contra o médium João de Deus, foi encontrada morta neste sábado (2), em Barcelona, na Espanha.
Em depoimento postado em seu perfil no Facebook no mesmo dia, ela fez um relato das dificuldades que vinha enfrentando em sua luta contra os abusos masculinos: "Eu fiz o que pude, até onde pude. Meu amor será eterno por todos vocês. Perdão por não aguentar, meus filhos".
Em sua conta na mesma rede social, Gabriel Baum, um dos filhos de Sabrina, postou: "Ela deu o último passo pra gente poder viver. Eles mataram minha mãe" (veja logo abaixo). Ainda não há confirmação oficial sobre a morte.
Comunicado da ONG Vítimas Unidas informa que Sabrina cometeu suicídio. Ela atuava na organização. "O grupo Vítimas Unidas comunica com pesar o falecimento de Sabrina de Campos Bittencourt ocorrido por volta das 21h deste sábado, 02 de fevereiro, na cidade de Barcelona, na Espanha, onde vivia atualmente. A ativista cometeu suicídio e deixou uma carta de despedida relatando os porquês de tirar sua própria vida", diz o texto, assinado por Maria do Carmo Santos, presidente do grupo Vítimas Unidas.
A carta de Sabrina, relatada por Maria do Carmo, não estava mais disponível na rede social no início da tarde deste domingo (3), mas um amiga dela havia copiado a publicação e compartilhado na página de Sabrina.
De acordo com um perfil de Sabrina publicado em dezembro de 2018 pela revista Carta Capital, ela era de família mórmon e foi abusada desde os quatro anos por integrantes da igreja frequentada pelos pais e avós. Ainda conforme a publicação, engravidou aos 16 anos de um dos estupradores. Por este motivo, militava na organização e preparava denúncias contra líderes religiosos abusadores.
Caso confirmado, esse seria o segundo suicídio relacionado aos abusos de João de Deus. O primeiro foi divulgado pela própria Sabrina em dezembro do ano passado. Segundo ela, uma das vítimas do médium, chamada Silvia, ficou fragilizada quando soube que ele voltaria a atender em seu "hospital espiritual" em Abadiânia (GO).
Na ocasião, João de Deus foi ao local sob forte comoção de seguidores e assédio da imprensa, mas permaneceu lá por menos de 10 minutos. Limitou-se a reafirmar sua inocência e disse estar à disposição da Justiça.
Sabrina contou que prestava apoio à mulher. De acordo com ela, Silvia jamais teve amparo da família, que era seguidora do médium e não acreditava nas denúncias.
— Me ligou sete vezes antes de tudo acontecer — declarou em vídeo publicado à época nas redes sociais.