A falta de entendimento entre servidores da saúde e prefeitura de Caxias resultou na saída de mais um cargo de chefia do Postão 24h. Após a exoneração do médico que ocupava o cargo de diretor técnico, foi a vez do enfermeiro Leone Ferreira Pereira ser afastado da coordenação de enfermagem nesta sexta-feira (21). A motivação é a mesma argumentada após a demissão do médico Tiago Perinetto, desligado do cargo no dia 10 de setembro: o desacordo dos servidores com as novas escalas apresentadas pelas secretarias de Saúde e de Recursos Humanos e Logística.
No caso mais recente, o enfermeiro se recusou a assinar a nova escala de trabalho das equipes de enfermagem que, segundo ele, reduzia o número de profissionais em média em 40%. No sábado à noite, a redução de profissionais chegaria a 50%. Ele seguirá como enfermeiro do Postão, já que é concursado desde 2013.
— Com um número tão reduzido, quando o servidor sai para o intervalo, não fica ninguém para cobrir o horário dele. Logo, as pessoas ficarão desassistidas. Se eu assinasse a escala, assumiria o risco dos pacientes ficarem sem atendimento em alguns horários — defende Pereira.
As novas escalas foram introduzidas no Postão neste mês pelas duas secretarias, em um projeto chamado Saúde otimizada. Segundo a prefeitura, a reorganização dos servidores é embasada em estudos que levaram um ano. Os plantões de trabalho foram organizados em escalas de 12 horas de serviço por 36 de descanso.
No entanto, nesta semana, o Sindicato dos Médicos entregou ao Ministério Público Federal (MPF) um documento que aponta, entre outras denúncias, o excesso de horas extras de pediatras e plantonistas. Na tarde de quinta-feira, o Sindicato dos Servidores Municipais reiterou essa reclamação, e incluiu uma carta dos pediatras plantonistas do Postão. São 10 itens listados pelos profissionais, que reclamam o déficit de profissionais, a falta de diálogo com a administração, o excesso de horas extras e a coação dos servidores a aceitar as medidas propostas pela prefeitura. Vangelisa Lorandi, secretária de Recursos Humanos e Logística, nega que a situação seja tão caótica quanto a exposta pelos servidores.
— Não existe ilegalidade nas escalas, e nem excesso de horas extras. Se olhar a escala, os pediatras estão dentro da carga horária mensal. Nós temos respaldo técnico para essas decisões. E ninguém foi coagido a deixar o cargo. Acontece que ao não concordar com as nossas decisões profissionais, eles deixaram os cargos de gestão — explica.
ENTENDA O CASO
O Sindicato dos Servidores de Caxias do Sul, Sindiserv, divulgou uma carta aberta escrita pelos pediatras plantonistas do Pronto Atendimento 24h. Veja os principais pontos reclamados, e o que a prefeitura diz a respeito:
:: Os médicos afirmam que três pediatras aposentaram-se e outros quatro exoneraram-se, o que mostra um déficit importante na equipe. A secretaria de Recursos Humanos e Logística (RHL) diz que as vagas estão sendo repostas.
:: Os médicos reclamam que houve uma redução de três para dois pediatras durante o dia. A RHL confirma esse dado, e diz que a decisão de reduzir é embasada em estudos técnicos.
:: A equipe médica diz que a nova escala é ilegal, que economiza gastos com saúde e que os profissionais foram coagidos a assinar a nova escala, sob pena de punições. Vangelisa Lorandi, titular da RHL, afirma que ninguém foi obrigado a assinar os documentos, e que todas as horas extras estão dentro do que a lei permite.