Cinco pessoas foram indiciadas pelo sequestro de um helicóptero que caiu em 8 de março deste ano na zona Sul de Joinville. Eles são acusados pela Polícia Federal (PF) de ter planejado ou participado do crime.
Os indiciados são Bruna Talita Iastrenski, Creuzinei Artmann Cunha e Roni Telmo Teixeira, que teriam ajudado a planejar o resgate de Paulo Henrique Artmann dos Santos (o Calango), preso por tráfico de drogas na Penitenciária Industrial de Joinville.
Eles teriam participação na ocultação de provas, falsificação de documentos, planejamento e apoio à tentativa de libertação do detento. Segundo a Polícia Federal, todos eles têm ligação familiar ou de amizade com Paulo Henrique. Ele também foi denunciado, assim como Daniel da Silva (único sobrevivente da queda).
A investigação apontou que Paulo Henrique contratou Daniel e Ivan Alexssander Zurman Ferreira (morto no acidente) para resgatá-lo na penitenciária. A dupla foi até Penha, onde contratou um voo panorâmico para Joinville usando a desculpa de sobrevoar um terreno.
— Eles fariam com que o piloto pairasse sobre a penitenciária e, por meio de uma corda e uma cadeira de alpinista, fariam o içamento do Paulo Henrique. Ele seria levado até um local próximo, onde uma outra equipe o levaria para um esconderijo — descreve o delegado da Polícia Federal, Cristian Juliano Cardoso.
Em depoimento à PF, Daniel, único sobrevivente da queda, disse que estava apenas acompanhando Ivan. Ele também disse que o sequestro foi anunciado ao piloto Antônio Mário Franco Aguiar e ao auxiliar Bruno Siqueira apenas em Joinville.
De acordo com o depoimento, houve uma luta dentro da aeronave entre os três mortos no acidente e que resultou em um disparo de arma de fogo, que não atingiu ninguém.
Duas armas foram encontradas no local da queda: um revólver com a numeração apagada e uma pistola fabricada no Brasil, que havia sido exportada para as Forças Armadas do Paraguai. A suspeita é de que ela foi extraviada em algum momento e acabou parando na posse de alguém que estava dentro do helicóptero.
O delegado da PF disse que concluiu o inquérito, mas aguarda a conclusão do laudo do helicóptero que apontará a causa da queda. No entanto, ele afirma que o resultado não muda o rumo das investigações, porém pode ser mais uma prova para o processo.
Também há informações de que o Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (Cindacta 2) não recebeu nenhum aviso de sequestro. De acordo com o delegado, mesmo que o piloto tivesse emitido o sinal, o Cindacta não receberia, já que o helicóptero normalmente sobrevoa abaixo da linha do radar.
O delegado da PF, Cristian Juliano, informou ainda que o Ministério Público Federal (MPF) acatou a denúncia e os acusados devem passar por audiência de instrução ainda este mês.
CONTRAPONTO
Daniel da Silva: segundo o delegado Cristian Juliano Cardoso, o indiciado afirmou, em depoimento, que apenas estava acompanhando Ivan Alexssander Zurman Ferreira durante o voo. Ele ainda detalhou o que ocorreu dentro do helicóptero.
Ivan Alexssander Zurman Ferreira: morreu na queda do helicóptero.
Bruna Talita Iastrenski, Creuzinei Artmann Cunha, Paulo Henrique Artmann dos Santos e Roni Telmo Teixeira: dois advogados de defesa constam no processo no Tribunal Regional Federal da 4ª Região. A reportagem entrou em contato com o escritório de Albani Bergamini e foi informada de que a advogada não se pronunciará sobre o caso. O escritório não quis nem informar quais são os clientes representados no processo. A reportagem também ligou para o escritório de Alex Blaschke Romito de Almeida, mas ninguém atendeu às tentativas de contato. As ligações foram realizadas entre o final da manhã e tarde de terça-feira.
O trajeto
A aeronave, de prefixo PR HBB, modelo Bell 206B, da operadora Avalon Táxi Aéreo, que presta serviços de voo panorâmico para o parque Beto Carrero World, foi contratada para um passeio por dois homens. Eles informaram que gostariam de visitar um terreno em Joinville e efetuaram o fretamento do voo. A partida ocorreu em Penha, no Litoral Norte, por volta das 15h20 do dia 8 de março e deveria retornar ao mesmo local em cerca de 50 minutos.
A queda
Por volta das 15h45min, a aeronave caiu nas proximidades da Penitenciária de Joinville, no bairro Paranaguamirim, na Zona Sul da cidade. Um vídeo registrou o momento da queda e mostrou que o helicóptero "despencou", explodindo em uma fração de segundos. A derrubada da aeronave aconteceu a cerca de dois quilômetros distante da unidade prisional.
Os ocupantes
Dois funcionários contratados da operadora da aeronave estavam no voo: o piloto, Antônio Mário Franco Aguiar, de 57 anos, e o auxiliar de pista, Bruno Siqueira, de 20. Ambos morreram no local. Bruno trabalhava na Avalon há três meses e costumava a ajudar o piloto e raramente voava com o colega de trabalho.
Além deles os contratantes do serviço Daniel da Silva, de 18 anos, e Ivan Alexsander Zurman Ferreira, de 24, também embarcaram. O primeiro sobreviveu e está preso na Penitenciária Industrial. Ele continua na enfermaria com queimaduras no braço, além de ter ficado com sequelas no rosto. Segundo a polícia, Daniel tem passagens por tráfico de drogas.
O acesso dos suspeitos
As informações repassadas pela Polícia Federal revelam que no dia do acidente, Daniel e Ivan foram até o posto da empresa, que fica no parque de diversões, e fizeram o fretamento. Foram pagos R$ 3,1 mil em dinheiro. Eles chegaram no local a bordo de um Honda Civic, conduzido por uma terceira pessoa, que não teve a identidade revelada pela polícia.