A prefeitura de Santa Maria abriu uma sindicância para apurar se houve excesso na abordagem de um guarda municipal a um homem que acompanhava um paciente dentro do Pronto-Atendimento (PA) do Patronato, no bairro de mesmo nome, região centro-oeste da cidade. O caso aconteceu na noite do último domingo (10) e foi gravado em vídeo por pessoas que aguardavam por atendimento médico na unidade.
Conforme Elton Cardoso de Souza, 47 anos, ele levou um jovem de 19 anos que reside em sua casa até o PA do Patronato, após o rapaz ter reclamado de fortes dores no peito. O atendimento do médico plantonista, que teria sido breve, revoltou Souza:
— Eu levei o guri, que mora conosco, até o PA porque ele não tem plano de saúde. Aí, assim que ele foi chamado, percebi que o médico nem olhou para o guri. Foi um atendimento negligenciado, rápido demais, ele sequer olhava para o paciente — disse Souza, em entrevista a GaúchaZH nesta terça-feira (12).
Souza diz que apenas indagou o médico quanto à medicação prescrita feita pelo profissional. O receio do acompanhante, justifica, se deu pelo fato de o jovem, que ele acompanhava, ter problemas cardíacos:
— Eu perguntei para o médico sobre a medicação. Imagina só: o guri tem sopro no coração, e o meu medo é que ele pudesse ter um problema com a medicação.
Na sequência, Souza afirma que foi abordado por um guarda municipal que, munido de uma spark (arma de choque), disse que iria prendê-lo por desacato a autoridade.
— Ele veio para cima de mim e, sem chance de (eu) falar, ele veio me dar voz de prisão, como se eu fosse um bandido.
Souza adianta que irá processar a prefeitura. Segundo ele, além do constrangimento e da agressão sofrida, a imagem dele foi manchada:
— A prefeitura saiu dizendo por aí que eu estava bêbado. Sendo que eu tenho problema na minha voz, desde a infância, e disseram que eu estava bêbado. Outra coisa, me operei para a remoção de um tumor de um câncer, no mês passado, ainda estou com pontos. E fui agredido e jogado no chão feito um bicho. A prefeitura diz que eu chutei a porta do consultório, não houve isso. É só recuperar as imagens (das câmeras) para constatarem que estou falando a verdade.
Apuração da prefeitura
Nesta manhã, GaúchaZH conversou com o controlador e auditor da prefeitura, Alexandre Lima, que disse que a prefeitura abriu sindicância para "apurar todos os fatos com a isenção que o caso merece". Em nota, a prefeitura afirma que o jovem deu entrada na unidade "sem qualquer menção a doenças cardíacas", e que o acompanhante do paciente "recusou atendimento e passou a agredir verbalmente os servidores" quando a medicação seria aplicada.
"Neste momento, foi oferecido ao paciente o atendimento de outro médico plantonista (já que havia quatro clínicos naquele turno no Pronto Atendimento), o que também foi rejeitado pelo acompanhante, que passou a chutar portas e ameaçar fisicamente os profissionais da Unidade de Saúde", diz a nota da prefeitura.
A reportagem também buscou o superintendente da Guarda Municipal, Sandro Nunes, que se limitou a dizer que irá aguardar o desfecho da sindicância.
Questionado pela reportagem se o guarda municipal teria cometido excesso, Nunes não quis comentar o caso em específico. Mas ele assevera que os 144 profissionais da Guarda Municipal passam, periodicamente, por cursos de formação e de reciclagem.
A Guarda Municipal de Santa Maria, que funciona 24 horas, foi criada em 2012. Do total do efetivo, 109 deles realizam trabalho ostensivo. Já os 35 restantes ficam responsáveis pela guarda patrimonial, distribuídos em mais de 20 pontos — entre escolas, postos de saúde e prédios públicos. Além disso, a guarda conta com 30 veículos (entre carros e motos).
Confira, abaixo, a íntegra da nota enviada pela prefeitura sobre o incidente:
"Sobre o incidente ocorrido no Pronto Atendimento Municipal Flávio Miguel Schneider, o PA do Patronato, a Prefeitura de Santa Maria presta os seguintes esclarecimentos. Às 21h45min do dia 10 de junho, o jovem de 19 anos deu entrada na Unidade de Saúde alegando dores abdominais devido à ingestão em excesso de bebida alcoólica, sem qualquer menção a doenças cardíacas.
Conforme atesta o prontuário, o paciente foi chamado ao acolhimento apenas dois minutos depois (21h47min) e, às 22h16min, já estava sob cuidados médicos.
A medicação para dor foi prescrita, porém, quando a equipe estava iniciando a aplicação dos remédios, às 22h27min, o acompanhante do paciente (que não possui nenhum grau de parentesco com o jovem de 19 anos) recusou atendimento e passou a agredir verbalmente os servidores do Pronto Atendimento.
Neste momento, foi oferecido ao paciente o atendimento de outro médico plantonista (já que havia quatro clínicos naquele turno no Pronto Atendimento), o que também foi rejeitado pelo acompanhante, que passou a chutar portas e ameaçar fisicamente os profissionais da Unidade de Saúde.
Registra-se, ainda, conforme relatos das pessoas que estavam no local, que o homem também apresentava sinais de embriaguez.
Diante da situação de risco estabelecida, a Guarda Municipal interveio para garantir a integridade física dos servidores públicos e evitar que a situação fugisse do controle.
A Prefeitura irá abrir uma sindicância para apurar os fatos e verificar se houve excesso de alguma das partes envolvidas."