Cumpridos os oito mandados de busca e apreensão, a Polícia Federal (PF) passa a analisar, a partir de agora, os documentos coletados em Passo Fundo, Porto Alegre e Florianópolis (SC) para identificar a natureza dos repasses feitos pelo Hospital São Vicente de Paulo, em Passo Fundo, a uma suposta empresa de fachada que presta serviço de consultoria. Nesta primeira fase da Operação Efeito Colateral, deflagrada nesta terça-feira (20), a investigação identificou transferências e depósitos bancários feitos por fornecedores do hospital e pela própria casa de saúde a esse estabelecimento cadastrado com endereço e telefone incorretos na capital catarinense. Os repasses do Sistema Único de Saúde (SUS) somam de R$ 350 a R$ 400 mil e ocorreram entre 2016 e 2017.
— O telefone que consta é de uma pessoa que, a princípio, não tem envolvimento com a possível fraude, sem relação alguma com a área hospitalar — disse o delegado responsável pela investigação, Guilherme Alves de Siqueira, afirmando que não pode passar detalhes para que futuras fases não sejam comprometidas.
A apuração, focada em um administrador financeiro da casa de saúde e em empresários do ramo, sem vínculo empregatício com o hospital, indica que a suposta empresa de fachada tem ligação com um parente do servidor investigado. Este, jamais teria ido a Passo Fundo. Conforme as denúncias, ao assumir o cargo, o administrador teria feito alterações profundas na sistemática do hospital, que geraram desconfianças e denúncias.
— Apreendemos contratos, notas fiscais, entre outros documentos para verificar se de fato há prestação de serviço que justifica os pagamentos identificados até agora – pontuou Siqueira.
O delegado Mauro Vinícius Soares de Moraes acrescentou que estão sendo tomadas precauções para evitar danos à imagem do Hospital São Vicente de Paulo. O policial ressaltou que, pelo que se investigou, foram irregularidades cometidas por apenas um servidor. Embora ninguém tenha sido detido, a PF não descarta representar pela prisão preventiva nos próximos dias.
— Nosso objetivo é, também, criar um alerta para que se estanque essa sangria lá dentro. Depois, definiremos autoria e materialidade dos crimes. Neste momento, não há motivo para prisão, o que não quer dizer que não faremos, ali adiante, a representação pela prisão. Não é aceitável que dinheiro público saia de forma ilícita, muito menos da área de saúde — finalizou Moraes.
Apesar de estar legalmente constituído como entidade particular filantrópica, o Hospital São Vicente de Paulo recebe e administra verbas públicas do Fundo Nacional de Saúde. Em nota, a instituição disse que "diante da Operação Efeito Colateral, desencadeada pela Polícia Federal (PF) em Passo Fundo e outras cidades e Estado, nesta terça-feira, 20 de março, comunica que está colaborando com a autoridade para que seja amplamente esclarecida a situação".