As discrepâncias internacionais sobre a situação dos rohingyas de Mianmar se acentuavam nesta terça-feira (12), enquanto o êxodo maciço para Bangladesh permanece.
A ONU já fala em "limpeza étnica" e, na quarta-feira, reúne seu Conselho de Segurança para tratar do tema.
Nesta terça, as Nações Unidas anunciaram que cerca de 370.000 rohingyas se refugiaram em Bangladesh para fugir da violência que explodiu no oeste de Mianmar no final de agosto. Na segunda-feira (11), foram contabilizados 313.000 refugiados.
A reunião do Conselho de Segurança da ONU, que examinará esta crise, anuncia-se tensa, sobretudo com a China, o principal investidor estrangeiro em Mianmar. Hoje, Pequim manifestou, inclusive, seu "apoio" aos esforços das autoridades do país para "preservar a estabilidade de seu desenvolvimento nacional".
Enquanto muitos países criticam Mianmar pela crise dos rohingyas, a China mantém relações com seu governo - liderado de facto pela Prêmio Nobel da Paz Aung San Suu Kyi -, em meio a uma estratégia comercial, energética e de infraestruturas chinesa no Sudeste Asiático.
A chegada de rohingyas que fogem a pé, na lama e sob a chuva, está provocando uma crise humanitária no vizinho Bangladesh, com acampamentos de refugiados superlotados.
No total, caso se incluam os rohingyas que já se viram obrigados a deixar suas casas por explosões de violência anteriores, haveria pelo menos 650.000 rohingyas em Bangladesh. A ONU admite, contudo, que essas estimativas são difíceis de confirmar.
"A magnitude e a velocidade do fluxo [de refugiados] não tem precedentes em Bangladesh", estima o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), relatando que "60% dos refugiados são crianças".
O gatilho dessa escalada se deu em 25 de agosto, quando os ataques rebeldes rohingyas contra delegacias de polícia deflagraram a repressão do Exército. Pelo menos 500 pessoas morreram, em sua maior parte membros dessa minoria muçulmana, segundo os militares.
Os rohingyas são tratados como estrangeiros em Mianmar, um país com mais de 90% da população budista, e são considerados apátridas, apesar de alguns estarem instalados ali há gerações.
Na segunda-feira, o alto comissário da ONU para os Direitos Humanos, Zeid Ra'ad Al Hussein, afirmou que o tratamento que Mianmar dá à minoria muçulmana rohingya se assemelha a um "exemplo de limpeza étnica de manual".
A primeira-ministra de Bangladesh, Sheikh Hasina, visitou os acampamentos de refugiados nesta terça-feira e pediu ao governo de Mianmar que "pare de torturar pessoas inocentes". A premiê já advertiu que é Mianmar que deve "resolver" essa crise.
Para o chefe do Exército de Mianmar, Min Aung Hlaing, "os rohingyas não fazem parte da história do país".
Na segunda-feira, a assessoria de imprensa de Aung San Suu Kyi se limitou a dar seu apoio ao Exército, garantindo que "as forças de segurança receberam instruções" para "evitar danos colaterais e que os civis inocentes fiquem feridos durante sua missão legítima de restaurar a ordem".
Em 2012, violentos confrontos no país entre budistas e muçulmanos deixaram cerca de 200 mortos, principalmente muçulmanos.
Aung San Suu Kyi depende do poderoso movimento de monges nacionalistas, que consideram os muçulmanos uma ameaça para Mianmar.
Até mesmo Dalai Lama pediu à dirigente que encontre uma solução para os rohingyas, a comunidade apátrida mais expressiva no mundo, com cerca de um milhão de pessoas.
* AFP