A decisão da 14ª Vara do Distrito Federal, na última sexta-feira, que possibilita o uso de terapias de reversão sexual _ prática proibida no Brasil desde 1999 pelo Conselho Federal de Psicologia _ atende a pedido dos psicólogos Adriano Lima e Rozangela Alves Justino e do escritor e palestrante Claudiomiro Soares. Em entrevista a ZH, Lima defendeu que a ação nada tem a ver com a intenção de promover a cura gay, e sim de fazer com que o profissional não se sinta "coagido, com medo de ser cassado".
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Confira trechos da entrevista:
Por que vocês decidiram entrar com a ação contra o Conselho Federal de Psicologia sobre a resolução de 1999?
Primeiro eu queria dizer que eu não acredito em cura gay. Homossexualidade não é doença. Criaram uma falácia, ninguém falou em cura. O conselho está pulverizando isso na mídia porque eles não querem que essas pessoas sejam atendidas. Vou me focar na ação. O doutor Waldemar não alterou a resolução, ele disse que podemos atender à homossexualidade egodistônica, que é um indivíduo que está com problema na sexualidade dele, quando ele não se aceita. Por exemplo, uma criança que foi abusada dos cinco aos nove anos, imagina que esse abuso foi muito recorrente, muito intenso, e não só trouxe danos na infância, como também na fase adulta. Vamos imaginar que um dos danos, e digo dano porque ele não se aceita, foi essa relação e o desejo de se sentir atraído por pessoas do mesmo sexo _ pode até se relacionar, mas carrega um sentimento de culpa. E aí ele vem e busca o auxílio, diz que não quer mais sentir atração por pessoas do mesmo sexo. Se é isso o que ele quer, eu vou ajudá-lo a se fortalecer e ter a sua tomada de decisão. Eu não vou tomar a decisão por ele. A gente quer que os pacientes que não se aceitam, que tem um problema com a sexualidade e querem mudar _ e eu acredito que há a possibilidade de reorientação, sim _ sejam atendidos. A ação pede isso.
Mas a procura para falar sobre esse esse tema é, inclusive, comum em consultórios, não?
Alguns psicólogos se sentem intimidados e com medo dos chamados pacientes "fakes". Sabe o que pode acontecer? Um indivíduo do movimento LGBT pode chegar no consultório e dizer que está com esse problema, mas com outros intuitos, com objetivos maldosos de nos denunciar. A resolução não é punitiva. Basta uma denúncia para que os psicólogos se sintam acuados e inibidos de atender sua demanda.
E nos casos em que não há abuso sexual e, sim, pressão familiar, por exemplo?
Nós vamos trabalhar a capacidade de autonomia da pessoa para que ela possa decidir. Eu não posso decidir. Eu ajudo, fortaleço. Se o paciente quer ser homossexual, tudo bem. É uma escolha dele, não minha.
Como é a abordagem nesses casos, atualmente?
Eu não vou entrar no mérito do tratamento, todas as abordagens são importantes, todas ajudam, a grande questão é fortalecer a capacidade de autonomia do paciente. Eu não vou curar ele, eu vou acolher o sofrimento dele, e vou trabalhar na perspectiva de que ele pode sim mudar, se ele quer mudar. Até porque a homossexualidade não é uma questão inata. Ninguém nasce homossexual.