Uma operação em conjunto envolvendo Polícia Federal, Receita Federal e Ministério Público Federal foi desencadeada nesta segunda-feira (11) no Rio Grande do Sul, em São Paulo e na Espanha para desvendar venda superfaturada de máquinas e implementos agrícolas do Brasil para a Venezuela.
O golpe é investigado há três anos. A partir de um procedimento fiscal da Receita Federal foram identificadas pessoas jurídicas no Rio Grande do Sul e em São Paulo que realizavam transações financeiras consideradas atípicas a fim de intermediar exportação de máquinas e implementos agrícolas do Brasil para a Venezuela.
Entre os dados que a polícia revelou está um contrato de R$ 350 milhões em que já foram investigados R$ 256 milhões. Destes, foram identificados R$ 100 milhões em valores pagos de forma superfaturada.
Empresas de implementos agrícolas, instaladas no Rio Grande do Sul, passam a ser alvo das investigações. Segundo a investigação, há pessoas físicas com crescimento vertiginoso de R$ 4 milhões para R$ 50 milhões em dois ou três anos, o que apontaria características evidentes de lavagem de dinheiro.
Leia mais:
PF desarticula esquema em negociações de máquinas agrícolas no RS e em SP
PF cumpre buscas nas casas de Joesley, Saud e Marcelo Miller e na JBS
Os crimes teriam ocorrido entre 2011 e 2014. O principal alvo da investigação é um cidadão venezuelano que foi preso preventivamente, na manhã desta segunda, em Madri, na Espanha.
— Ele é um dos principais atores desse esquema que envolve a lavagem de dinheiro por meio de exportações realizadas para uma empresa estatal venezuelana a qual importava maquinário agrícola do Brasil e utilizava operações de exportações de fachada para lavagem de dinheiro — apontou o delegado da Polícia Federal, Alexandre Isbarrola.
No Brasil, seis pessoas foram alvo de condução coercitiva e encaminhadas para depor na Polícia Federal. Além disso, foram cumpridos mandados de busca e apreensão em Porto Alegre, Canoas, Passo Fundo, Erechim, Americana (SP) e São Paulo (SP).
— Ninguém paga comissões de 30% com lucratividade tão pequena em uma área que se conhece e se tem tradição em exportar. O formato é muito evidente de lavagem de dinheiro — avalia o superintendente da Receita Federal no Rio Grande do Sul, Paulo Renato Silva da Paz.
Empresas sediadas na Venezuela – uma delas estatal – compraram máquinas e implementos agrícolas com valores muito acima do praticado no mercado. Parte considerável do dinheiro não era destinado aos fabricantes e fornecedores, e sim para contas bancárias diversas remetida ao Exterior. Algumas foram repassadas para pessoas jurídicas sediadas em paraísos fiscais.
— Se utilizaram de brechas no Brasil e no Exterior para conseguir ingressar no Brasil com dinheiro, aparentemente lícito, e lavar no Brasil dinheiro de origem venezuelana — diz o procurador da República, Juliano Karam.
A investigação chamada de Operação Conexão Venezuela busca apurar prática dos crimes de lavagem de dinheiro e organização criminosa com atuação em solo gaúcho.