– Tenho orgulho de ser colono!
A declaração do agricultor de Nova Pádua Raymundo Tonello resume a satisfação da maioria das mais de 30 mil famílias da Região Nordeste do Estado que sobrevivem da terra e dela colhem frutos para abastecer os trabalhadores da cidade. E elas comemoraram o Dia do Colono, registrado no calendário em 25 de julho. Nesta terça-feira, portanto.
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Aos 81 anos, seu Raymundo esbanja saúde e alegria. Ele mora num pequeno paraíso italiano, localizado nas encostas da Serra Gaúcha. O município de Nova Pádua tem cerca de 2,5 mil habitantes e é cercado por parreirais encravados nos morros que tornam as paisagens deslumbrantes.
– Nasci aqui e é aqui que quero morrer. Não arredo pé deste lugar – ressalta o agricultor.
Foi lá que ele criou seus seis filhos. Ele vive numa casa simples. O filho, Nestor, 57 anos, e o neto, Tiago, 24, moram com ele e seguem seu exemplo. Os três têm algo em comum: o amor pela terra.
– Não queremos outra vida. Queremos esta aqui – argumentam.
Nestor trabalhou durante 30 anos em um frigorífico em Caxias do Sul. Mas à noite voltava para dormir na colônia. Em 2006, retornou para casa em definitivo.
– Lá eu tinha um salário fixo, mas não se compara a qualidade de vida. Aqui faço meus horários e o meu salário. Tenho liberdade. Não quero outro trabalho – garante Nestor.
Trinta e sete mil famílias atuam diretamente na agricultura nos 49 municípios de abrangência da Emater Regional Caxias do Sul. Em 2010, eram 34,6 mil famílias. Um aumento de 7% segundo a Emater. Isso se deve principalmente pelas melhores condições de acesso às políticas públicas, principalmente de crédito rural e assistência técnica. E pela melhor condição de trabalho e renda nas atividades agrícolas.
"Sou da época do arado"
Seu Raymundo é da época em que os colonos realizavam todas as tarefas da roça no braço. Hoje, a tecnologia e os equipamentos agrícolas facilitam o trabalho. Os herbicidas matam as ervas daninhas.
– Sou do tempo em que a terra era lavrada pelo arado puxado por duas mulas. As pestes eram arrancadas com as mãos e a enxada – lembra o agricultor.
Mesmo assim, garante que sempre foi feliz. Plantava uva, milho e trigo. Hoje, predominam os seis hectares de parreirais e contam com a parceria e ajuda da Cooperativa Nova Aliança para entregar suas uvas. É esse ramo que o neto Tiago pretende manter e cultivar. Estudante de Engenharia, ele mesmo conserta os equipamentos agrícolas da família.
– O amor pela terra, pelas parreiras está no sangue. É um setor que está crescendo. Vou ficar por aqui – diz o jovem.
Em Caxias do Sul, uma escola agrícola, localizada na Terceira Légua, estimula a permanência dos filhos dos agricultores no campo. A escola tem 74 alunos matriculados e adota a pedagogia da alternância. Os estudantes permanecem uma semana na escola e outra em casa aplicando o conteúdo teórico em sua propriedade.
Para a gerente regional da Emater, Sandra Maria Dalmina, as condições de acesso à educação, às estradas, à comunicação e à boa renda têm incentivado os jovens a se manter nas atividades rurais.
– O tema sucessão rural está sendo melhor tratado. Garante aos jovens protagonismo nas atividades da propriedade e da definição das rendas das famílias – ressalta Sandra.
"Gostamos de plantar e de ver crescer"
A família Wais mora em um dos cenários mais privilegiados do interior de Caxias do Sul. Localizada na Terceira Légua, no roteiro turístico Estrada do Imigrante, a propriedade de 15 hectares reúne beleza, tranquilidade e prosperidade. E muitas parreiras.
Dona Vilma tem 66 anos e sempre morou na colônia. Seu Antônio, 69, também. Casados há mais de 40 anos, criaram três filhos. Delvio, 42, mora com eles e está dando sequência ao trabalho iniciado pelos pais e avós.
– Cresci debaixo dos parreirais. Gosto de plantar e de ver as plantas crescerem, se desenvolverem e dar frutos. Se depender de mim, não saio daqui – garante Delvio.
O pai conta que Delvio sempre gostou da roça. Ele fugia para poder estar debaixo dos parreirais. Aos 11 anos, já ajudava na poda. À tarde, andava a pé mais de seis quilômetros para frequentar a escola. No dia seguinte, bem cedinho, estava na roça.
"Vou dar condições"
Casado com Sandra, também filha de agricultores, o casal têm dois filhos: Marlon 6, e Cleiton, 3. Se depender do gosto pela terra, os dois vão seguir o caminho dos pais e dos avós. Cleiton já quer aprender a manusear a tesoura para podar as parreiras.
– Se pudessem, estariam sempre brincando com a terra – diz a mãe, Sandra.
O pai, Delvio, incentiva.
– Vou proporcionar todas as condições para eles permanecerem na colônia.
O segredo para se manter no interior e garantir a sobrevivência da família e da terra?
– Persistência e atualização às novidades – destaca Delvio.
Segundo ele, é preciso prestar atenção nas mudanças, buscar novas técnicas.
– Hoje, a Cooperativa Nova Aliança, da qual somos sócios, nos dá toda a assistência necessária – lembra.
Mais do que tudo isso, é gostar da natureza e da terra.
– Não é um trabalho fácil. Também não dá para desanimar quando uma safra não dá certo. É preciso erguer a cabeça e recomeçar – recomenda Delvio.