Paulo Sant'Ana estreou sua coluna em Zero Hora em 17 de novembro de 1971, com um texto intitulado "Economia interna", no qual falava sobre jogadores do Grêmio. Confira:
Economia interna
Eu nem ninguém sabe quem contrata jogadores no Grêmio. São tantas as dúvidas. Oto diz: "Esse eu nem sabia." Os outros refutam: "Todos são trazidos com o aval do treinador." Mas como tudo de ruim que por lá acontece é atribuído, injustamente, a Obino, eu vou também dar meus parabéns ao presidente por uma contratação: Joãozinho. Que vontade de jogar futebol, meu Deus! Não tem bola perdida. Com o que o ex-cruzeirista mandou de bola em São Paulo, aconteceu o milagre: a torcida esqueceu Flecha, que junto com Torino deu ao Grêmio a projeção nacional deste Brasileirão.
Eu próprio berrei no Sala de Redação: "Joãozinho é cabeça de bagre. Não merece o Grêmio." Mil perdões. E a sincera admiração àquele que, seja Oto ou Dourado, ou o massagista, descobriu na baba do Cruzeiro um cara de futebol aproveitável. Vejamos diante da torcida, onde ao que dizem os próprios jogadores gremistas, "a barriga da perna treme".
*A pretensão socialista de Ari Ercilio esbarra em um truque eminentemente capitalista: o contrato. Também empaca em um fato palpável e já provado: Ancheta é Boeing. O castelhano tem pinta, nome e manda uma bola capaz de apagar para sempre da memória gaúcha o trio famoso: Oyarbide-Urruzmendi-Lamas. Conselho, Ari: disputa a posição com o Beto. A parada é dura, porém menos indigesta.
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Em 26 de julho de 2015, o jornalista publicou sua última coluna antes de deixar o espaço para tratamento de saúde. Falou sobre as finanças do Estado. Confira:
Jogo de empurra
Estamos de um jeito, que a colunista Rosane de Oliveira dá um furo num dia em que divulga que os funcionários públicos estaduais não vão receber nada de aumento em 2016, no dia seguinte divulga ela novamente outro furo, publicando que vai aumentar a alíquota do ICMS para 18% e, em seguida, a colunista entra em férias. Se ela não para de trabalhar, o Estado confessará a sua falência.
A coisa tem funcionado assim: o governador cochicha com a colunista Rosane de Oliveira e ela dá a notícia na sua coluna. No dia seguinte, o governador desmente a colunista. E mais: um dia depois, a mesma colunista noticia o aumento do ICMS para 18%, e o governador tenta desmentir de novo, mas o fato é que, sobre as finanças estaduais, qualquer notícia trágica que se der é sempre verdadeira, nada pior do que esse campo da administração na gestão sartorista.
Do jeito que a coisa estava andando, com a Rosane de Oliveira dando um furo por dia sobre o caos das finanças estaduais, se ela não entrasse em férias, ou o Sartori renunciava, ou a colunista sofreria de hemorragia noticiarista.
E do jeito que estava a coisa, a Rosane de Oliveira dava um furo sobre o caos das finanças estaduais e o jornal concorrente desmentia.
Enquanto isso, o Sartori dava uma entrevista para um jornal no cochicho e no dia seguinte desmentia o furo no outro.
O Sartori está trabalhando menos em ser governador do que em desmentir ou confirmar dois jornais diários em sua briga de beleza.
Primeira vez que o jornalismo virou "bota que eu desminto ou bota aí que eu não confirmo aqui".
E segue o baile.