Para segurar a volátil base parlamentar e barrar a aguardada denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR), o presidente Michel Temer trabalha em um plano de contenção do que seus aliados mais próximos chamam de "tempestade perfeita": a investida do procurador-geral Rodrigo Janot, somada a delações do operador Lúcio Funaro e do ex-deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR).
Na estratégia palaciana, a distribuição de emendas e cargos ganhou reforço do afago aos governadores na renegociação de dívidas e das promessas do PMDB de blindagem para evitar a cassação do senador Aécio Neves (PSDBMG). Além disso, apoio ao PSDB na corrida presidencial de 2018. A aprovação do distritão na reforma política, a fim de facilitar reeleições de deputados, e a troca do comando da Polícia Federal também estão no horizonte.
Como a denúncia de Janot precisa do aval de 342 dos 513 deputados para ser apreciada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), o foco de Temer está na Câmara. Ele busca 172 aliados dispostos a engavetar o caso, fruto da delação da JBS e da conversa gravada entre o presidente e o empresário Joesley Batista. Parlamentares de diferentes partidos afirmam que, no momento, o Planalto tem os votos para sobreviver.
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– Toda abstenção ou ausência favorece o governo, então, Janot e a oposição que precisam de 342 votos. Eles não fazem 150 – projeta o deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS).
A permanência do PSDB no governo, conquistada graças à negociação do PMDB com caciques do Senado e governadores, foi considerada decisiva no Palácio para garantir a confiança do momento. Porém, 20 dos 46 deputados tucanos, na ala jovem da bancada chamada de "cabeças pretas", adiantam que não blindarão Temer.
– Defendo o apoio à agenda de reformas, mas não à participação em um governo em meio à tentativa de barrar investigações – afirma Daniel Coelho (PSDB-PE).
A tropa de choque do Planalto monitora a insatisfação tucana, em especial pelo receio por "fatos novos", capazes de contaminar o apoio de outras legendas. O risco foi o destaque de um jantar realizado terça-feira no apartamento do deputado André Fufuca (PPMA), com a presença de cerca de 50 parlamentares dos principais partidos da coalizão de Temer, exceto o PMDB. Com leitão assado, vinho chileno e uísque no cardápio, os deputados avaliaram que, se a instabilidade se ampliar a partir de novas revelações ou delações, fica a tendência de que cada político pense apenas em sua reeleição.
– Se Janot denuncia o presidente e aparece algo forte numa delação do Funaro, por exemplo, não tem emenda ou cargo que segure a base – pondera um integrante do PP.
No raciocínio, pesam as votações abertas nas análises da denúncia. O pedido passa pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e pelo plenário, onde a votação é por chamada nominal, a exemplo do impeachment de Dilma Rousseff. Decano da Câmara e na oposição a Temer, Miro Teixeira (Rede-RJ) reconhece que o desgaste eleitoral de um voto contra a Lava-Jato pode fazer a base ruir, porém só vislumbra a possibilidade em caso de manifestações nas ruas.
– No caso de Dilma, havia gente na rua. Votaria para processar Temer, mas a maioria que o presidente tem fica a perigo caso ocorram grandes protestos – diz.
Para esfriar manifestações, o Planalto prepara ações de apelo popular, como a correção da tabela do imposto de renda. A aliança com o mercado também tende a ser reforçada. A ordem é aprovar a reforma trabalhista no Senado e tentar iniciar a votação da Previdência, na Câmara, em julho.
– Não podemos deixar que o Janot paute o Congresso – adverte o deputado Carlos Marun (PMDB-MS).
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A TROPA DE CHOQUE DE TEMER
- No Senado
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A BASE DO PLANALTO NA CÂMARA
Atual
PP, PODE, PTdoB* 64
PMDB 64
PSDB 46
PR 39
PSD 37
DEM 29
PTB, PROS, PSL, PRP* 24
PRB 23
SD 14
PSC 10
PHS 7
PV 6
PEN 3
PMB 1
Total: 367
Deixaram a base
PPS 10
PSB 36
Total: 46
Oposição
PT 58
PDT 19
PC do B 12
PSOL 6
Rede 4
Total: 99
* Bloco parlamentar