O casamento é um dos fenômenos mais importantes da sociedade moderna. Antigamente, era quase que unicamente baseado em interesses e poses de terras. Hoje, quem procura um parceiro para a vida inteira é, essencialmente, movido pela necessidade humana de compartilhar com o outro. A satisfação no casamento é um tema complexo, que envolve uma miríade de fatores. Pesquisas apontam e confirmam cada vez mais que é no cotidiano que moram os maiores propulsores da felicidade na vida a dois. O casamento transforma-se ao longo da vida, com a vinda dos filhos, responsabilidades, entre outras coisas. Com isso, é necessário que se discutam formas de manter o bom convívio entre o casal.
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É a esse tema que se dedica Paulo Sérgio Sanches Rocha, engenheiro aposentado e professor da fundação Dom Cabral (SP), que esteve em Caxias do Sul ministrando uma palestra na CIC, com o tema: "Viver a Dois: os desafios para manter a sintonia do casal". Casado há mais de 40 anos, Rocha falou sobre suas experiências e como manter uma relação saudável e interessante. Entre suas obras figura o livro Índice de Conjugalidade (Clube dos autores, 180pg, R$ 60), que trata justamente sobre relacionamentos. Há 15 anos, quando começou a lecionar um curso para noivos na igreja de sua comunidade, percebeu a grande dificuldade a respeito do tema:
– Eu olhava a plateia de 20 casais e sabia que em 10 anos metade deles estaria separado. Pensei que não poderia ser assim. Eu precisava fazer alguma coisa. Foi quando decidi escrever sobre isso e comecei a dar palestras – conta Rocha.
Por meio de suas pesquisas e de toda a experiência que acumulou ao longo dos anos sobre o assunto, Rocha desenvolveu uma espécie de "termômetro" do casamento, um instrumento para medir a qualidade da vida conjugal.
– Eu chamei de Índice de Conjugalidade. Ele mede o quanto o casal está junto, no sentido radical da palavra. Essa conjugalidade é o que mantém os parceiros unidos, e nem sempre tem a ver unicamente com o amor. Há muitos outros fatores que influenciam esse índice. Mas eu os resumi em cinco principais. Esse índice surgiu enquanto eu acompanhava casais que tinham entre si muito mais amor do que capacidade de se relacionar. Em determinado momento, só o amor não é suficiente, e 48% dos casais não completam 10 anos de casados hoje em dia. Em um país em que ninguém mais se casa por obrigação, mas sim por livre e espontânea vontade, por que alguns conseguem e outros não? É o que o termômetro tenta responder. Os casais precisam de ajuda, mas não para aumentar o amor, e sim para que ele seja suficiente – explica.
O professor enumera ainda alguns dos motivos pelos quais, apesar das pessoas hoje se casarem mais tardiamente, com a vida mais estruturada, muitos casais não permanecem juntos.
– Um dia eu percebi que tudo conspira contra o casamento: as novelas, a literatura, os casais famosos que se separam. Tudo isso cria uma sensação angustiante de que o casamento está falido, e obviamente não está. O Índice de Conjugalidade que eu trago no meu livro e nas minhas palestras veio para mostrar que o casamento pode dar certo. Nós nascemos para sermos felizes, e podemos fazer isso juntos – diz.
E que sejam...
Rocha divide o nível de conjugalidade em cinco índices principais, e explica cada um dos fatores e sua influência na vida a dois. O primeiro deles é a variação de casais que deram certo para os que não deram. Um casal que sempre se deu bem, que está sempre junto, que anda de mãos dadas, não vive brigando em público, é um casal que, para o professor, deu certo.
O próximo fator é o cotidiano, o casal por ele mesmo. Nisso estão envolvidas várias questões, por exemplo o fato que hoje geralmente cada parceiro tem sua carreira. Ninguém mais fica em casa, cuidando das tarefas domésticas como antigamente. E aí uma questão muito simples mas importante aparece: a divisão das tarefas. Quem vai cuidar do jardim, quem vai fazer o supermercado? A divisão está justa, equilibrada? Se não estiver, e um dos parceiros se sentir sobrecarregado, começa um problema. É importante fazer essa divisão, ter isso bem claro entre os dois.
O terceiro fator é o financeiro. O desemprego, a crise, a gestão das finanças do casal.
– Vejo casais que tem um descontrole muito grande das despesas – diz Rocha, acrescentando que "ninguém é feliz devendo no cartão de crédito" e que isso interfere no relacionamento.
Essa questão financeira tem que ser tratada de maneira objetiva, sem acusações de nenhuma das partes, ensina. Se o casal começar a se culpar, e frases como "Você não se controla", "Você gasta demais" aparecerem durante as discussões, a tendência de que o problema afete diretamente o casamento é muito grande. Em tempos de crise, as possibilidades de dívidas e perda do controle financeiro são ainda maiores, e, segundo o professor, exigem ainda mais cuidado.
... felizes para sempre
O quarto índice é um dos mais importantes: o projeto de vida. Segundo o professor, o casal deve ter um alinhamento sobre o futuro:
– Eu peço para casais se imaginarem daqui 10 anos, projetarem sua vida. Quando um apresenta seu projeto para o outro se percebe muitas vezes uma diferença muito grande. Isso tem que ser negociado, discutido pelo menos, ou pode até acabar com um relacionamento de muito tempo, simplesmente pela falta de diálogo.
O último é o mais complicado. Sexo. Para Rocha, os casais ainda não conversam sobre o tema:
– Hoje em dia não se discutem coisas como mútua satisfação, o que pode, não pode. Ainda existe um tabu muito grande em torno desse assunto. É importante para o casal estar em sintonia, tanto sexual quanto espiritual – explica.
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Entenda o resultado
Segundo o professor Rocha, o casal que se encontra entre 800 e 1000 pontos está bem. Mas casais abaixo dos 200 pontos precisam tomar cuidado e procurar soluções, ou o próximo passo será a separação. A maioria está na média, entre 400 e 600 pontos. O desafio é se esforçar para chegar a uma boa posição. A partir disso, basta a preservação e o cuidado. Mas além de tudo, acima dos pontos, está o principal: a cumplicidade. A vontade de manter o casamento feliz.
Ele acrescenta que nós, humanos, temos a vocação de estar com alguém.
– É muito difícil ser feliz sozinho. O casamento, por mais que se modifique, vai continuar existindo, resultado da busca da felicidade em conjunto. A maior prova de amor é a capacidade em fazer o outro feliz. São esses relacionamentos que têm perdurado e alcançado a longevidade – diz.
Dicas:
O livro "Índice de Conjugalidade" do professor Paulo Rocha pode ser encontrado em livrarias ou através do site Clube dos Autores. No livro, o professor traz exercícios e conselhos para quem deseja, de fato, "ser feliz para sempre".