O depoimento do advogado José Yunes, ex-assessor e amigo pessoal do presidente Michel Temer, corrobora o que foi dito, em delação premiada, por Cláudio Melo Filho, ex-vice-presidente de Relações Institucionais da Odebrecht. No entanto, as declarações possuem algumas divergências.
Segundo o delator, Yunes foi intermediário da propina que serviria para financiar campanhas peemedebistas. Já o advogado, em entrevista à revista Veja, disse ter sido "um mula involuntário" do ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, que se licenciou nesta quinta-feira para tratar de um problema de saúde.
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No último dia 14, Yunes também prestou depoimento voluntário à Procuradoria-Geral da República para esclarecer o episódio ocorrido em setembro de 2014 e que veio à tona no final do ano passado, após vazamento da delação premiada de Melo Filho. A repercussão fez com que Yunes pedisse demissão do cargo de assessor especial da Presidência da República.
Quais são os pontos em comum entre as versões:
- Melo Filho afirma que o pagamento da propina teria ocorrido entre 10 de agosto e o final de setembro de 2014, no escritório de Yunes, em São Paulo.
- Yunes diz que Eliseu Padilha entrou em contato para lhe solicitar um favor em setembro de 2014, que intermediasse o recebimento e entrega de um "documento".
Quais são os pontos divergentes:
- Em sua delação, Melo Filho não faz nenhuma menção ao nome do doleiro Lúcio Funaro, apontado pelo Ministério Público Federal como operador do ex-deputado Eduardo Cunha, ambos presos pela Lava-Jato.
- Não há confirmação sobre o valor que teria passado pelo escritório de Yunes, se R$ 1 milhão ou R$ 4 milhões. De qualquer forma, são quantias que não caberiam em um envelope, como dito pelo advogado.
- Outra dúvida é: que razões levariam a Odebrecht a utilizar operador ligado a Cunha para entregar o dinheiro que seria alocado por Padilha?
O que diz Cláudio Melo Filho, ex-vice-presidente de Relações Institucionais da Odebrecht, em delação premiada:
"Estive com Michel Temer em um jantar no Jaburu, oportunidade em que ele solicitou a Marcelo Odebrecht pagamento ao PMDB. Esses pagamentos, no valor de R$ 4 milhões, foram realizados via Eliseu Padilha, preposto de Temer, sendo que um dos endereços de entrega foi o escritório de advocacia do Sr. José Yunes, hoje Assessor Especial da Presidência da República. (...) Segundo me foi informado por Eliseu Padilha, sei que parte do pagamento foi destinada ao ex-deputado Eduardo Cunha. (...) O valor aproximado foi de R$ 1 milhão. (...) Durante a coleta de dados de corroboração, apurei que um dos pagamentos, que havia solicitado José Filho (José de Carvalho Filho atuava como um auxiliar do executivo) fazer, ocorreu entre 10 de agosto e o final de setembro de 2014 na Rua Capitão Francisco, 90, Jardim Europa, sede do escritório de Advocacia José Yunes e Associados. José Yunes hoje é assessor especial da presidência da República (o advogado deixou o cargo após a divulgação da delação)."
O que diz José Yunes, ex-assessor e amigo pessoal do presidente Michel Temer, em entrevista à revista Veja:
"Padilha me ligou falando: 'Yunes, olha, eu poderia pedir para que uma pessoa deixasse um documento em seu escritório? Depois, outra pessoa vai pegar'. Eu disse que podia, porque tenho uma relação de partido e convivência política com ele. (...) A pessoa se identificou como Lúcio Funaro. Era um sujeito falante e tal. Ele me disse: 'Estamos trabalhando com os deputados. Estamos financiando 140 deputados’' Fiquei até assustado. Aí ele continuou: 'Porque vamos fazer o Eduardo presidente da Casa'. Em seguida, perguntei a ele: 'Que Eduardo?'. Ele me respondeu: 'Eduardo Cunha'. Então, caiu a minha ficha que ele era ligado ao Eduardo Cunha. Eu não sabia. Fui pesquisar no Google quem era Lúcio Funaro e vi a ficha dele. (...) Ele deixou o documento e foi embora. Não era um pacote grande. Mas não me lembro. Foi tudo tão rápido. Parecia um documento com um pouco mais de espessura. Mas não dava para saber o que tinha ali dentro. (...) Depois disso, fui almoçar. Aí, veio a outra pessoa e levou o documento que estava com a minha secretária."