A maior e mais tradicional festa da Serra Gaúcha, que no ano passado atraiu 941 mil visitantes, não contará em 2018 com a sua segunda principal receita. A prefeitura de Caxias do Sul confirmou que não manterá o patrocínio direto à Festa da Uva, que na 31ª edição foi de R$ 3,9 milhões – montante inferior apenas às bilheterias do parque e dos desfiles, que somaram R$ 4,45 milhões.
Daniel Guerra anunciou que nenhum evento será patrocinado pelo Executivo e que as prioridades do município são os gastos considerados essenciais pela gestão que assumiu em janeiro: saúde, educação e segurança. Com o corte, os organizadores da Festa da Uva terão de usar a criatividade para equilibrar as contas e afastar qualquer risco de cancelamento. A nova comissão de organização do evento deve ser anunciada até março e, após analisar o balanço da edição anterior, vai definir a estratégia de arrecadação de recursos.
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– Estamos fazendo o levantamento completo da situação e a transição da administração. Até onde sei, vai funcionar sem este investimento (da prefeitura). Tudo depende da negociação com as entidades empresariais, e são muitas – afirma o atual presidente da Festa da Uva, Cleiton de Bortoli.
Em 2016, a Festa da Uva obteve R$ 19,5 milhões e gastou R$ 16,8 milhões – o lucro anunciado foi de R$ 2,2 milhões. A crítica do governo Guerra, porém, é que houve prejuízo, já que o Executivo destinou quase R$ 4 milhões.
– Nossas decisões estão baseadas em dados e fatos. Herdamos um déficit milionário e, por determinação do prefeito, cortaremos tudo que não for essencial. Se você tem dificuldade financeira para serviços básicos, não pode bancar uma festa que não cobriu as dívidas e foi mal administrada – pondera Júlio César Freitas da Rosa, chefe de Gabinete.
O dinheiro que a prefeitura deixará de injetar no evento poderia pagar, por exemplo, todas as despesas administrativas (R$ 1,94 milhão) e boa parte dos R$ 2,5 milhões do suporte e apoio em infraestrutura, alimentação, hospitalidade e segurança, ou ainda uma parcela considerável dos R$ 5,6 milhões de custos comerciais (bilheteria, marketing, ambientação etc). Mesmo diante do cenário de retração, o chefe de Gabinete de Guerra não mostra-se preocupado com um improvável cancelamento:
– Exatamente pelo reconhecimento nacional, há um apelo grande para captação de recursos para bancá-la. O governo entendeu que o município não pode mais ser promotor de eventos.
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"Cresceu e agora vão querer uma festinha?"
Além do Executivo, outros grandes financiadores da Festa da Uva são bancos _ como Bradesco e Caixa Econômica Federal –, empresas estatais e a Lei Rouanet. De acordo Reomar Slaviero, ex-diretor e presidente em edições passadas, será preciso inovar para manter o alto nível sem apoio financeiro do poder público. Ele entende que Guerra pode dar outro tipo de ajuda, como sensibilizar os servidores a trabalharem de forma voluntária, por exemplo:
– Sempre com dificuldades, conseguimos viabilizar. Sabemos que a festa é uma vitrine de Caxias e precisa do respaldo da prefeitura. O que se arrecada é revertido em melhorias no parque.
Para o presidente da Festa da Uva em 2016, Edson Néspolo, os ganhos para a cidade em hotéis, restaurantes, mão-de-obra, comércio e outras áreas ultrapassam R$ 200 milhões. Por isso, ele diz não entender a postura da nova gestão:
– Cresceu e agora vão querer uma festinha? A edição de 2018 estava praticamente pronta, mas com esse negócio de não investir, complica. Caxias tem de diversificar sua matriz, apostar em turismo, ser competitiva para seminários e workshops. E não se acanhar.
Outros eventos que recebiam apoio do município foram cancelados, como o Rodeio Internacional Campo do Bugres, que seria realizado nos pavilhões da Festa da Uva em março – pois teria de pagar um aluguel de R$ 120 mil do parque, antes doado pela prefeitura –, e o Carnaval de rua.