O sonho de se tornar médico já tem data para começar a se concretizar: 6 de março de 2017. É quando o catarinense Vanderson Mayron Granemann Antunes, 20 anos, assistirá à primeira aula na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (Fmusp) – uma entre as 12 aprovações em 11 instituições.
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A inscrição na universidade foi feita na última sexta-feira, 3. Vanderson soube da conquista em 30 de janeiro. Quatro dias depois, correu para se matricular e garantir a vaga – e foi o primeiro aluno a fazer isso. E ele já está superfeliz com a escolha que fez.
– Tem uma tradição muito legal lá: todos os calouros têm que morar, de graça, por pelo menos um mês com algum veterano. É bom pra ir se acostumando – explica.
Cada um desses momentos foi compartilhado pelo estudante em seu perfil no Facebook.
Trajetória
Até chegar a uma das melhores universidades do país, Vanderson se dedicou por três anos aos estudos, mas também foi desestimulado. Em um restaurante no qual trabalhou, foi "esculachado", como ele lembra, por um ex-patrão assim que respondeu a ele por que queria se tornar médico.
Disse que eu nunca ia conseguir, porque sou pobre, porque estudei em escola pública – lamenta. E o ex-patrão seguiu: –Tá trabalhando para mim, tu nunca vai ser nada.
Natural de Otacílio Costa, a cerca de 250 km de Florianópolis, se mudou aos seis anos com a mãe e o irmão para Jaraguá do Sul, distante 185 km da capital do estado.
Terminou o Ensino Médio em 2013. No ano seguinte, se matriculou em um cursinho pré-vestibular, mas não se dedicava porque precisava trabalhar como garçom. Em 2015, se mudou para Santa Maria e passou a estudar em outro cursinho, pago com o dinheiro do emprego informal.
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O resultado, finalmente, apareceu: foi aprovado em medicina pela primeira vez, na Universidade do Planalto Catarinense (Uniplac). Felicidade aliada à frustração, pois não tinha dinheiro para pegar pelas aulas.
– Passar e não poder cursar é o maior sofrimento. Eu estudei a vida inteira em escola pública. Foi difícil recusar uma vaga dessas, mas recusei porque não tinha como pagar – conta.
Em 2016, seguiu morando em Santa Maria e ganhou uma bolsa de estudos em outro cursinho. Teve de pagar apenas pelo material. Dedicava-se aos cadernos e aos livros das 6h à meia-noite. Aí, tudo deslanchou e, durante o ano, as conquistas foram aparecendo.
Garantiu aprovações nas seguintes instituições: duas vezes na Universidade da Região de Joinville (Univille), Universidade Federal do Piauí (UFPI), Universidade de Caxias do Sul (UCS), Universidade de Passo Fundo (UPF), Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Universidade Federal do Paraná (UFPR), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Centro Universitário Univates e, finalmente, Universidade de São Paulo (USP).
– Foi bem difícil. A gente sempre pensa "A USP é um sonho?". É, mas não é impossível. Lá, no fim do túnel, sempre esteve aquela luz piscando "USP, USP, USP" – diz.
O começo do sonho
O desejo de se estudar medicina surgiu em uma experiência ruim que teve na família. Aos seis anos, perdeu uma prima depois de ela fazer uma cirurgia. Segundo ele, por erro médico.
– A cena do caixãozinho dela, todo mundo chorando, eu não entendia o que estava acontecendo. Eu queria ser médico pra não deixar aquilo acontecer de novo.