Quando o som da pequena trombeta rompeu o burburinho na Praça Saldanha Marinho, após o soprar dos pulmões do soldado Thiago Nunes, da banda da Base Aérea de Santa Maria, as centenas de pessoas que estavam no local para acompanhar as homenagens alusivas aos quatro anos da tragédia na boate Kiss, silenciaram. Era possível ver no rosto de cada um, compenetrados prestando atenção ao toque do instrumento, o esforço para segurar as lágrimas.
Se para quem estava apenas assistindo foi difícil, imagina para o soldado Nunes, responsável pelo toque que, apesar da redundância, tocou todo mundo. Ele também perdeu um colega militar que estava na boate no dia 27 de janeiro de 2013.
– Mexe bastante com a gente. Gostei muito de ser convidado para dar apoio a essas famílias que perderam tantas pessoas que poderiam estar aqui. Também perdi amigos e e sei que não é fácil. Fiquei receoso logo que me falaram, mas já faço isso frequentemente. Mas as mãos e as pernas tremeram lá em cima – confessa Nunes.
Ao lado dele estava o 1º tenente Alessandro Bellini. Ele foi um dos pilotos que levaram diversos sobreviventes de helicóptero até a capital. A participação nos atos sempre faz com que o militar relembre os momentos difíceis daquele dia terrível.
– A gente trabalhou o dia inteiro. Fizemos várias viagens para Porto Alegre. Nem precisamos ser acionados para ir ao batalhão, a Base toda se mobilizou. Demos o nosso máximo. Sempre que tiver essas homenagens pretendo vir participar, porque participei daquele momento tão doloroso. Toca muito a gente, principalmente quando o parente de alguém vem nos agradecer – conta Bellini.
Depois, bailarinas da Companhia Sorrindo com Arte distribuíram abraços a quem estava presente na praça. O coral Orquestrando Artes, na sequência, apresentou lindas músicas que falavam sobre o poder de um abraço, do carinho e da solidariedade.