O discurso de todo fã dos Engenheiros do Hawaii de que a banda é a única gaúcha a conseguir conquistar um posto relevante no cenário nacional do rock tem agora embasamento literário. A obra Infinita Highway – Uma carona com os Engenheiros do Hawaii chega às livrarias levando um apanhado de depoimentos e mais de 100 entrevistas feitas pelo jornalista Alexandre Lucchese. A ideia de se dedicar por um ano e meio na produção do livro surgiu quando ele apurava informações para uma reportagem sobre os 30 anos da banda, divulgada na Zero Hora no final de 2014. O repertório de contos sobre a trupe liderada por Humberto Gessinger era vasto demais para uma única matéria, concluiu.
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– Comprei meu primeiro disco dos Engenheiros aos oito anos, na fase do Papa é Pop, eles estavam super estourados. Posso dizer que é uma das minhas referências culturais e musicais mais importantes. Essa pesquisa foi um estímulo, já que cada vez que eu descobria alguma coisa, me empolgava muito, era importante para mim – conta Lucchese.
A obra retrata detalhes da formação mais conhecida da banda, o trio Gessinger, Carlos Maltz e Augusto Licks. Maltz e Gessinger foram personagens fundamentais para a obra, já que forneceram todo tipo de informação ao escritor em dois rounds de entrevistas, indicando outros contatos e rememorando datas e fotos. Ao todo, foram 18 álbuns lançados e mais de 3 milhões de discos vendidos – entre outras singelas conquistas à época, como uma das primeiras aparições de gaúchos no Domingão do Faustão ou ter direito a um programa especial exclusivo na Rede Globo, além de shows em destinos nada convencionais, como Moscou em 1989. Em um jantar no hotel em que estava hospedado, o grupo precisou desviar de um tiroteio, o que ilustrava bem o clima que encontrou na cidade onde comandaria cinco shows, com plateia discreta.
Ainda que Gessinger, Maltz e Licks integrem a composição mais emblemática da banda, o período que antecedeu a formação de ouro, com o baixista Marcelo Pitz, também é incluído na obra. A apresentação que coloca o ponto final do trio original, com Pitz, aconteceu na Serra. O palco do Clube 31 de Outubro, de Garibaldi, foi o último dividido pelo trio, pouco depois de terem abocanhado o primeiro disco de ouro. O show foi em 20 de junho de 1987.
– Teve bastante gente, mas podemos dizer que 90% do pessoal era de fora. Montenegro, Lajeado, Estrela, Farroupilha, Bento – conta o proprietário de um dos clubes mais tradicionais de Garibaldi, Joe Pietá.
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Nada a temer
Pitz foi substituído por Augustinho Licks e a nova era dos Engenheiros começa. O jeito blasé de quem não queria – e não precisava – agradar críticos de jornais da região sudeste do país parecia surtir efeito contrário. Enquanto a legião de fãs elegia os Engenheiros como a melhor banda de 1990 e os colocava nas paradas das rádios, os críticos a classificavam como a pior banda e disparavam ataques como "letras com elucubrações que não chegavam a lugar algum" e que queriam taxar Gessinger como “o novo Raul Seixas dos anos 90”. Ainda que a banda tenha se mudado fisicamente para o eixo Rio/SP de mala e cuia, literalmente, a sensação era de que ali os integrantes se fortaleciam mais gaúchos. O jeito bastante isolado dos três rendia críticas e inimizades entre outros gigantes do rock, mas nada que afetasse os fãs – estes que encaram a banda como uma verdadeira religião.
– Não tem bicho do mato? Pois o Humberto é bicho do quarto. Fica na dele, lendo, lendo, lendo. O Augustinho e o Carlos também eram assim. Eram pessoas profundas, e essa profundidade era captada pelos fãs – conta no livro a ex-produtora da banda, Lau Sampaio.
A viagem que o escritor Alexandre Lucchese propõe aos fãs de Engenheiros está a pleno vapor. Ele já visitou diversos pontos do mapa gaúcho para apresentar a obra (Caxias ainda não está no roteiro), e diz que os livros vendem pelo apelo à banda. Sobre o sempre desejado retorno do grupo, Lucchese avalia como pouco provável. Até porque o escritor é fã confesso dos Engenheiros, e capaz de entender tão bem os integrantes, a ponto de compreender Gessinger ao afirmar que não pretende ler a obra.
– Estou admirando ainda mais eles por me darem essa liberdade absoluta quanto à produção. Mas sobre voltar ou não, não sei se seria interessante trabalhar o nome dos Engenheiros. Cada um tem hoje seu trabalho próprio, singular. Todos estão olhando para frente e não ficam tentando se repetir. E isso é o mais legal – define.