As mobilizações que tomaram a UFRGS nas últimas semanas reúnem muitos alunos calouros no movimento estudantil, mas também se apoiam na experiência de universitários com envolvimento em protestos promovidos por diferentes movimentos sociais nos últimos anos.
As ocupações se organizaram com a participação de militantes de grupos variados ligados à esquerda, incluindo coletivos em defesa dos direitos de negros, feministas e egressos das manifestações de rua que sacudiram a cidade em 2013. Um dos articuladores da onda de ações nas universidades é o estudante de História da UFRGS Matheus Gomes, 25 anos. Ex-coordenador do Diretório Central dos Estudantes (DCE), ganhou destaque como membro do Bloco de Luta pelo Transporte Público. A organização integrou as passeatas contra o aumento no valor das passagens de ônibus que atraíram milhares de pessoas às ruas da Capital a partir de março de 2013.
Leia também
Ocupações mostram nova face do movimento estudantil
Manual traz orientações sobre forma de agir nas ocupações de escolas
A atuação trouxe consequências distintas para Gomes: foi alvo de mandado de busca e apreensão em investigação sobre atos de vandalismo, quando negou as suspeitas e se disse vítima de perseguição política, e se lançou candidato a deputado federal pelo PSTU no ano seguinte sob denominação de "o guri dos protestos". Não se elegeu, mas conquistou 11 mil votos. Hoje, fora do PSTU, está ligado ao recém lançado Movimento por uma Alternativa Socialista e Independente (Mais).
– O processo de junho de 2013 teve como expressão posterior as mobilizações nas escolas e, agora, nas universidades. Gerou nova geração mais conectada com a política – avalia Gomes, integrante do movimento Ocupa Tudo Brasil.
A aluna Fabiana Lontra, que ajudou a implantar a primeira ocupação na UFRGS, no curso de Letras, levou para o campus a experiência como militante feminista no coletivo Juntos! (associado ao PSOL) e como uma das organizadoras da Marcha das Vadias na Capital. A passeata é realizada anualmente em várias cidades do mundo para combater a violência contra as mulheres.
O movimento negro também responde por parte do alunado que se entrincheirou nas universidades para tentar derrubar projetos do governo Temer. Ritchele Vergara, aluno do curso de Direito e participante do coletivo Dandara, afirma que o combate à PEC do Teto é o grande fator comum de mobilização atual.
– A PEC acabou por criar um movimento novo, que une vários segmentos de lutas sociais. Estudantes ligados a partidos, outros independentes, se uniram para enfrentar a PEC, mas também a Escola sem Partido e a reforma no Ensino Médio – observa Vergara, que participou da ocupação da reitoria, em setembro, em protesto contra a possibilidade de alterações na política de cotas.