Em peças improvisadas, 20 famílias vivem amontoadas dentro do antigo prédio da assistência social da Fasc, no Jardim Ingá, na Zona Norte de Porto Alegre. São ex-moradoras da Vila da Mata, uma ocupação no Bairro Passo das Pedras, despejados pela prefeitura em novembro de 2015 com a promessa de que, em até 60 dias, receberiam um novo local para morar. Até hoje, eles esperam por uma solução do Demhab.
– A situação está insustentável. Nós estamos abandonados aqui – desabafa a presidente da Associação de Moradores da Vila da Mata, Márcia da Silva.
Auxiliar de cozinha desempregada, Márcia, 43 anos, divide duas peças de uma antiga cozinha com os filhos Gabriel, 14, e Anderson, 17, os netos, Pedro Juan, oito, Natacha, quatro, e Camile, três, e a sobrinha Alessandra da Silva, 17 anos, com as filhas dela, as gêmeas Ana Clara e Ana Laura, de oito meses. O banheiro é coletivo, assim como os dois chuveiros disponíveis para mais de 60 crianças e adultos.
"É desumano"
Eram 68 famílias quando foram transferidas às pressas da área despejada. No início, mais da metade delas vivia em barracas espalhadas no pátio do terreno. Afinal, seria provisório. Porém, com o passar dos meses, vendo que a situação se perpetuaria, muitos moradores deixaram o prédio da Fasc. Hoje, restam 20 famílias, que afirmam não terem outro lugar para morar.
– Quando vimos que a situação não se resolveria antes do inverno, conseguimos madeira para fazer uns barracos. Não viveríamos na chuva, molhando o resto das coisas que a gente ainda tem. Ficou feio, mas foi a única alternativa – explica Márcia.
Oito casebres de uma peça foram erguidos no pátio. Outras sete peças do prédio também estão ocupadas. Na época da transferência, o prédio da Fasc estava abandonado havia dois anos. Para acomodar os despejados, a prefeitura fez consertos na rede elétrica e hidráulica. Porém, há infiltrações nas paredes e no teto.
– As crianças estão sempre doentes por causa da umidade. Nos prometeram um terreno para construirmos as nossas casas. Nada ocorreu. É desumano – afirma Márcia.
Sem data para remoção
A promessa expressa por Márcia, líder dos moradores, está escrita num ofício enviado pelo Demhab, em 20 de novembro de 2015, à Procuradoria Geral do Município, informando o novo endereço das famílias. Elas receberiam lotes com infraestrutura básica de água, esgoto e energia numa área que é de propriedade do município, no quadrante das ruas 39, Professora Zilah Totta, Irmã Teresilda Steffen e Vereador Terezio Meirelles, no Bairro Rubem Berta. Nada ocorreu.Segundo a diretora-geral do Demhab, Luciane Skrebsky, a área mencionada no ofício foi inviabilizada, pois a comunidade local manifestou-se contrária à ação.
– Estamos verificando junto à Secretaria Municipal da Fazenda outra área que não esteja com sua destinação comprometida, que seja viável tecnicamente e que comporte o número de famílias da Vila da Mata. Para todas as famílias foi oferecido aluguel social, mas apenas 11 famílias aderiram ao benefício –explica.
Luciane ressalta que o Demhab segue trabalhando para resolver a situação no menor prazo possível, mas não há data para as famílias receberem novo endereço. Enquanto o problema segue, Márcia inventa respostas para os netos.
– Meus netos estão sempre perguntando "quando é que nós vamos para a nossa casa?" É triste demais – finaliza Márcia.
Ocupação impediu funcionamento da piscina do Cevi
O prédio da Fasc é vizinho ao espaço destinado a duas piscinas do Centro de Comunidade Vila Ingá (Cevi), que deveriam ser utilizadas pela comunidade na temporada de verão. Há, inclusive, um portão de acesso entre os dois terrenos. Com a chegada das famílias da Vila da Mata, as atividades nas águas do Cevi foram suspensas no verão de 2015. No período, mesmo com as duas piscinas reformadas e prontas para atendimento, cerca de 15 mil pessoas deixaram de frequentar o Centro.
De acordo com o secretário municipal de Esportes, José Edgar Meurer, as piscinas permaneceram secas durante toda a temporada porque a prefeitura temia algum tipo de invasão por parte das crianças da ocupação quando não houvesse segurança no local, correndo risco de afogamentos.
– Desta vez, como a situação ainda não foi resolvida, estamos com uma licitação em andamento para contratarmos uma empresa de segurança durante 24 horas. Não queremos prejudicar a comunidade mais uma vez – afirma o secretário.