Diário Gaúcho acompanhou moradores da Vila São Jorge a pé, no escuro, enfrentando barro e desníveis, pois a linha que atendia a região deixou de passar em três ruas em função das más condições das vias. São, no mínimo, 400 moradores que encaram um martírio para ir e voltar do trabalho. Sem falar na insegurança.
O dia já começa tenso para moradores da Vila São Jorge, no limite de Viamão com a Capital. As chuvas de outubro e a falta de manutenção das ruas impedem que a linha de ônibus Capororoca, da empresa Viamão, faça seu itinerário tradicional.
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Hoje se completam 18 dias do martírio que obriga pessoas a acordar de madrugada, encarar chuva e o medo de assalto. A falta de estrutura e de serviço de transporte na região compõem um problema de mais de uma década, relatado pelo Diário Gaúcho desde 2005.
Caminho em grupo
Isso faz com que os moradores das ruas Sítio Paloma, Monte Carlo, João Pedro Delgado Sobrinho e arredores tenham de caminhar 1km ou mais até as paradas mais próximas, na Estrada João de Oliveira Remião, Bairro Lomba do Pinheiro, na Capital.
Segundo a prefeitura, apenas nestas três ruas, são cerca de 400 moradores. Como há vias secundárias na região, o número de pessoas sem o serviço de ônibus é bem maior.
Na sexta-feira, o DG acompanhou essa rotina. Às 5h15min, um grupo de trabalhadores caminhou por 20 minutos, na escuridão, em uma estrada cheia de declives, subidas e buracos. Desde 13 de outubro – quando o ônibus parou de entrar na vila –, o carpinteiro João Oliveira, 54 anos, precisa acordar 40 minutos mais cedo.
Ele sai de casa às 5h20min para pegar o ônibus das 5h40min na Estrada João de Oliveira Remião. Antes, contava com uma parada na frente de casa:
– Não dá para garantir que a gente vá pegar o ônibus, então, temos que acordar bem cedo.
Medo de assalto
A doméstica Eva dos Santos Vieira, 67 anos, sai de casa na companhia do marido, José Vieira, 69 anos. Com uma lanterna, ele ilumina o caminho para ela ir ao encontro de João. Existe um código implícito: João sabe que a luz apontada pelo vizinho significa que Eva está chegando. Ambos vão, juntos, até a parada.
– Tenho vizinhos que já foram assaltados. Faço o caminho junto com ele (João) porque, sozinha, é mais perigoso – conta Vera, que pega dois ônibus para chegar até o Bairro Praia de Belas.
"Tá cada vez mais difícil"
A escuridão do percurso é tanta que foi difícil inclusive para a reportagem fazer anotações em um bloco. E não é só o breu que dificulta o trajeto. A chuva tornou a estrada uma pista de obstáculos. Buracos com poças de água e desníveis obrigam os trabalhadores a tentar iluminar o chão com a luz do celular ou com lanternas para não tropeçarem.
– Somos esquecidos. Todos os anos é igual, uma tortura para nós. Tem que ser corajoso para fazer este trajeto – desabafa a chefe de cozinha Elisabeth Frenomini, 42 anos, que sai às 5h20min de casa para estar às 6h30min no trabalho, no Bairro Santa Cecília, na Capital.
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O motorista Luiz Côrrea, 56 anos, que trabalha no Bairro Menino Deus, diz que já cansou de chegar ao trabalho com as calças sujas de barro. Ao completar o trajeto e chegar na Parada 28, ele já está ofegante.
– Tá cada vez mais difícil – admite.
A prefeitura de Viamão explica que a iluminação nas ruas Sítio Paloma, Monte Carlo e João Pedro Delgado Sobrinho está na programação da Secretaria Municipal de Obras e Serviços Públicos e "deve ser realizada o mais breve possível".
Prefeitura faz promessa
A empresa de ônibus Viamão confirmou que, desde o dia 13 de outubro, a linha Capororoca não está circulando no trecho das ruas Sítio Paloma, Monte Carlo e João Pedro Delgado Sobrinho, na Vila São Jorge, devido às más condições das vias.
Por meio da assessoria de comunicação, a empresa diz ainda que a linha não passa pelo trecho devido ao risco de acidente e que, enquanto não forem feitas melhorias, o trajeto seguirá suspenso. Questionada pela reportagem sobre se faz algum tipo de cobrança à prefeitura quanto à melhoria no trecho, a empresa preferiu não se manifestar.
Já a prefeitura de Viamão informou que, até a próxima sexta-feira, será feito o patrolamento e a colocação de saibro no trecho utilizado pela linha Capororoca na Vila São Jorge.