"Tá sem fazer nada? Pergunta que a gente arranja." A frase estampava um cartaz colado na parede do hall da Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em Porto Alegre. E também resumia o clima de colaboração nos sete prédios ocupados por estudantes desde a semana passada.
A mobilização de alunos, servidores e professores é em protesto contra projetos que tramitam no Senado: a PEC do teto de gastos, o projeto da escola sem partido e a reforma do Ensino Médio. Até a tarde desta terça-feira, 20 cursos estavam com aulas paralisadas.
Na entrada do prédio da Arquitetura, embora um "comunicado à comunidade acadêmica e à sociedade" convide a todos para "dialogar, conhecer e construir" a ocupação, a reportagem foi impedida de acessar o local.
ZH ainda esteve em outros dois prédios ocupados, nas faculdades de Psicologia e de Biblioteconomia e Comunicação, que também mantinham as portas fechadas para a imprensa, em função de decisão tomada em assembleia.
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Segurando uma pasta em uma mão e guarda-chuva com a outra, um estudante tenta ingressar no prédio, mas é informado que não há aulas. O jovem baixa a cabeça, faz sinal negativo e dá meia-volta. Outros alunos – e pais também – chegam entusiasmados, carregando sacolas com mantimentos – comida, principalmente – para os que irão passar a noite no local.
Na Arquitetura, os ocupantes se autogerenciam divididos em seis grupos, que são responsáveis, por exemplo, pela alimentação, segurança, comunicação e agenda de atividades da ocupação. Nesta terça-feira, foram realizadas uma roda de conversa e uma aula pública.
Coordenador do Diretório Central de Estudantes da UFRGS, Júlio Câmara, 23 anos, explicou que o movimento das ocupações é organizado de maneira democrática, e que tudo é decidido por meio de assembleias. Estudante de Jornalismo, vê na PEC 241 "um avanço na retirada de direitos, que resulta na precarização da educação pública".
– As ocupações são importantes porque são ato de resistência e um grito que a gente dá no momento em que vê o governo aprovar sem qualquer debate com a população, sem nenhuma discussão pública, uma PEC que trata de um plano estratégico para o país, que vai definir orçamentos muito importantes, como a saúde a educação, durante 20 anos.
Para o estudante de Engenharia Civil, Gabriel Carneiro da Fontoura Ardilez, 18 anos, contrário às ocupações, o ato é classificado como movimento de "inutilidade". Ele, que se disse favorável à PEC 241, lamentou estar sem poder assistir às aulas de cálculo, que ocorrem em um dos prédios ocupados.
– Não vejo como os senadores podem mudar de opinião porque a UFRGS foi ocupada. Não vejo nenhuma razão para isso acontecer, nenhum motivo lógico. O que acho mesmo é que, no fundo, os estudantes estão com necessidade de mostrar que estão fazendo alguma coisa.
Prédios ocupados na UFGRS
Em Porto Alegre
- Arquitetura
- Biblioteconomia e Comunicação
- Educação
- Filosofia e Ciências Humanas
- Letras
- Psicologia
Em Tramandaí
- A sede
Os estudantes protestam contra pelo menos três propostas que tramitam no Senado:
PL 193 – Inclui entre as diretrizes e bases da educação o "Programa Escola sem Partido", que prevê a "neutralidade" dos professores diante de questões políticas, ideológicas e religiosas em sala de aula.
PEC 241 (atualmente PEC 55, no Senado) – Determina que, pelos próximos 20 anos, as despesas públicas, incluindo saúde e educação, serão reajustadas somente pela inflação oficial dos 12 meses anteriores.
MP 746 – Promove reestruturação do Ensino Médio e torna opcional matérias consideradas transversais, como Artes, Filosofia, Sociologia, Educação Física e Línguas Estrangeiras.
O que diz a UFRGS
Procurada pela reportagem, a assessoria de imprensa informou que a Reitoria está "acompanhando a movimentação das ocupações, que vai ao encontro de outras realizadas no país". Também destacou que, por enquanto, como a mobilização está em fase inicial, a Reitoria está "em compasso de espera" e que não há nenhuma medida sendo estudada.
Lista dos cursos ocupados
1. Letras
2. Biologia Marinha
3. Bacharelado Interdisciplinar
4. Educação no Campo
5. Pedagogia
6. Filosofia
7. Ciências Sociais
8. História
9. Arquitetura
10. Design
11. Psicologia
12. Fonoaudiologia
13. Serviço Social
14. Jornalismo
15. Publicidade
16. Relações Públicas
17. Biblioteconomia
18. Museologia
19. Arquivologia
20. Políticas Públicas