Pelo menos 30 estudantes passaram a madrugada desta quinta-feira na Faculdade de Comunicação Social (Famecos), da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), em mais um movimento de ocupação de instituições de Ensino Superior no Estado. Os organizadores afirmam que o protesto tem como alvo a PEC do Teto dos Gastos, mas parte dos participantes também defende a inclusão de outras demandas, como o aumento da mensalidade e o salário dos professores. Uma assembleia, na noite desta quinta-feira, definirá a pauta de reivindicações.
A manifestação começou na noite de quarta-feira sob tumulto. Dezenas de seguranças fizeram um cordão de isolamento para bloquear a entrada de alunos, que carregavam cartazes. Estudante de Serviço Social, Mariana Lançanova, 24 anos, conta que levou um golpe de cassetete na cabeça durante a confusão. Ferida, ela recebeu atendimento na enfermaria da PUCRS e foi liberada.
– Assim que nos aproximamos da porta, eles começaram a nos agredir. Houve muita truculência, mas a gente não tinha nenhum objeto na mão – afirmou a universitária, que pretende registrar ocorrência policial nesta tarde.
A instituição reconhece a possibilidade de a aluna ter sido ferida no início do ato, mas negou que a agressão tenha sido proposital.
"A Universidade informa que não houve ato de agressão deliberada, sendo que os ferimentos podem ter ocorrido em meio ao tumulto ocasionado no início da tentativa de ocupação. A Universidade lamenta o ocorrido e acompanha os fatos", afirmou a instituição, em nota.
Leia mais
Manifestantes tentam ocupar prédio da PUCRS
MPF analisa representação de estudantes contra ocupações em prédios da UFRGS
Faculdade de Direito da UFRGS é ocupada em protesto de estudantes
Após a confusão, estudantes e a direção da PUCRS fizeram uma negociação, e o grupo passou a ocupar um andar do prédio e uma sala de aula. Conforme a advogada do movimento, Ana Luiza Teixeira Nazario, 23 anos, que também é estudante da universidade, as aulas não serão prejudicadas pela ocupação:
– Nenhuma aula será interrompida, este movimento não causará prejuízo aos alunos. Não estamos bloqueando o acesso ao prédio, e tudo está sendo negociado e construído de forma pacífica junto com a direção da universidade.
Os universitários dormiram em barracas e colchões. Para esta quinta-feira, serão organizadas atividades culturais e de reflexão sobre o atual momento político do país.
– Somos motivados pelo movimento nacional que está acontecendo, que se articulou a partir de escolas do Ensino Médio e depois cresceu para as universidades, ampliando o debate. Na Famecos, estamos com uma linha parecida, entramos pacificamente no prédio e temos pautas claras. Sabemos que é uma universidade privada, mas a PEC 55 (como passou a ser chamada, no Senado, a PEC do Teto) nos atinge também, como nos investimentos do ProUni – explicou um estudante, que não quis ser identificado.
Conforme a advogada do movimento, ainda não há previsão para a saída dos estudantes do prédio. O grupo, que espera receber mais manifestantes ao longo da quinta-feira, deve permanecer no local ao longo dos próximos dias, promovendo debates e atividades culturais. Durante a tarde, participantes do movimento visitarão salas de aula para convidar os colegas a se integrarem à assembleia, marcada para as 21h no saguão da Famecos, e a estenderem a ocupação a outros prédios.
Em nota, a PUCRS afirma que "representantes da Universidade dialogam constantemente com os alunos". O texto destaca que a mobilização é "pacífica" e que as aulas transcorrem de maneira normal nesta quinta-feira. "O ingresso dos estudantes no prédio (da Famecos) é feito mediante apresentação da carteira estudantil", esclarece a instituição. O documento ainda ressalta que a ocupação, "segundo diálogo dos alunos com representantes da Universidade, ocorre em apoio a movimentos nacionais, e não por pautas específicas relativas à PUCRS".