Empresário que idealizou – desde o planejamento até a construção – os casarões onde hoje fica o Centro Cultural Zona Sul, em Porto Alegre, Arthur Armando Guarisse morreu nesta terça-feira, em casa, enquanto dormia. Tinha 81 anos e, segundo a família, teve morte natural.
A cerimônia de despedida foi realizada ontem, no Cemitério São Miguel e Almas, na Capital.
Artesão de destaque, também ficou conhecido pelo casamento, em 1983, com a atriz Sandra Bréa. A artista, considerada símbolo sexual na época, tinha o vírus HIV e morreu aos 47 anos, em decorrência de uma parada respiratória, em 4 de maio de 2000. Os dois ficaram casados por cinco meses.
Guarisse, que auxiliou o pai em uma banca no Mercado Público, foi motorista de táxi, vendeu carros usados, lecionou história, trabalhou no Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Empregados em Transportes e Cargas (Iapetec) e parou de variar as atividades profissionais quando começou a consertar lustres. O meio encontrado para ajudar na renda familiar acabou se transformando em uma empresa de artesanato na Zona Sul que, em seu auge, chegou a contabilizar mais de 200 funcionários.
A satisfação dos clientes estimulou Guarisse a não apenas recuperar lustres estragados, mas a criar novos. Não demorou para que o Artesanato Guarisse começasse a produzir também luminárias, relógios e móveis. Com o aumento da produção, a oficina improvisada na garagem de casa, no bairro Tristeza, ficou pequena. Seria preciso contratar artesãos, comprar mais matéria prima e ampliar o espaço – mas Guarisse preferiu construí-lo do zero. O empreendedor ergueu, em 1971, em um amplo terreno aos fundos de casa, um conjunto de casarões que se transformou em uma fábrica que mantinha o funcionamento dos setores de marcenaria, estofaria, montagem, fundição e pintura de cerâmica.
O Artesanato Guarisse chegou a ter sede no Rio de Janeiro, em São Paulo, em Torres e em Gramado, mas foi no bairro da Capital que a unidade inspirada nas construções do século 18 se notabilizou a ponto de se tornar um ponto turístico.
Nos anos 1980, ele precisou entregar os prédios ao Estado para quitar dívidas. Em uma das casas funciona, atualmente, o Centro Cultural Zona Sul.
Artesão desde o final da década de 1960, Guarisse parou de trabalhar por volta dos 70 anos, quando precisou deixar Torres, onde tinha uma loja, para cuidar da saúde.
O aposentado, então, voltou a Porto Alegre, cidade que lhe presenteou com o título de Cidadão Emérito, recebido no início dos anos 2000.
Um dos legados deixado por ele se concretizou em um dos principais símbolos da Capital. Durante uma viagem à França, visitou um mercado de pulgas e, de volta ao Brasil, quis implementar o que viu no país Europeu. Deu início, então, ao Brique da Redenção.
Marcia Morales Salis, conselheira municipal de Cultura e estudiosa do Artesanato Guarisse, conta que, durante os últimos anos de pesquisa sobre o trabalho de Guarisse, uma das coisas que mais a impressionou foram as entrevistas e os encontros com pessoas que tiveram algum tipo de ligação com o artista. "Todos, sem exceção, a seu modo, elogiavam o comportamento de Arthur Guarisse como chefe, patrão ou empreendedor, que os tratava com muito respeito e valorização. À época, de um jeito muito diferente do que era comum acontecer", relata no Facebook.
Nascido em Porto Alegre, Guarisse deixa os filhos Viviane, Ana Luiza, Leia e André, e netos.